segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Um livro que recomendo

Copiando agora o que escrevi no Tumblr (reconheço que lá não me parece muito bom para compartilhar textos).

Post de 14 de janeiro.



“O dia rompeu cinzento e triste”

Com essa frase começa o romance “Servidão Humana”, de Somerset Maugham. É um dos meus livros preferidos. Já não lembro quando o li pela primeira vez. Mas devia ser adulta. Comprei 200 mil anos atrás uma antiga coleção de livros brancos (da Abril Cultural) em um sebo. Sei que perdi alguns deles porque emprestei para uma amiga que nunca me devolveu. Mas, felizmente, os dois volumes de “Servidão Humana” tinham ficado comigo.

Não estou aqui para bancar a crítica literária. Não tenho capacidade para isso. Mas a história de Philip Carey me pegou desde as primeiras páginas. “O dia rompeu cinzento e triste” já me dava sinais do que esperaria - mais ou menos como aconteceu comigo quando li a primeira frase de “David Copperfield”, de Charles Dickens (este foi consumido na adolescência).




(Meus livros são assim, meio velhos mesmo)




Bem, não contarei a história. O interessante é que o nome do personagem principal eu havia esquecido, mas o do personagem secundário, por assim dizer, esse não saiu da mente. Mildred. Como me pareceu odioso. Eu não entendia a obsessão de Philip. Perguntava a meus botões como alguém poderia ficar tão preso a outra pessoa a ponto de jogar fora sua vida. Hoje, sim, compreendo. Seres humanos não conseguem ser tão simples. Aprendi por mim.


Mas por que falo desse livro agora?


A verdade é que terminei uma saga. Há uns cinco anos comprei “O Silmarillion”, do Tolkien. Apesar de gostar muito do tema, não conseguia avançar e parava sempre nos capítulos iniciais. Nossa, reli tanto o começo que lembro da criação do mundo por Ilúvatar, particularmente do momento que Tolkien fala de música. Mas, como disse, algo sempre travava minha leitura (em geral, trabalho excessivo). Curiosamente, disse para uma pessoa que meu objetivo em 2008 - um ano de mudanças para mim - seria concluí-la, coisa que eu não tinha conseguido fazer até então.


Nesse tempo, li outras obras. Opa, não é que eu fique sem ler. Pelo contrário. Leio muito, como deveria ser com todo jornalista. Mas eu reservava “O Silmarillion” para uma fase mais calma. Exatamente para não ter de reler mais uma vez o capítulo inicial, o da criação do mundo.


Ou seja, continuei furando meu objetivo até que no final de 2011 resgatei o livro. Eu precisava. Um acontecimento em novembro modificou minha vida e tratei de refazê-la. Então, eu vi o livro. Sim, chegara o momento de concluir uma parte da minha história.


Terminei “O Silmarillion”. Que vitória. Fiquei feliz mesmo. Finalmente pude saber mais dos personagens que já conhecia de nome: o malfadado Túrin, o amor imortal de Beren e Lúthien, o corajoso Ëarendil e, sim, Morgoth, o mal. Pude compreender uma boa parte da mitologia criada por Tolkien (ainda preciso aprender mais).


(ilustração colhida na web de Beren e Lúthien)

Terminado o livro, preparei-me para encarar outro. Está na prateleira a biografia de Steve Jobs, um presente de final de ano. Havia mais um candidato. Ganhei de aniversário outro do Anthony Bourdain, “meu amigo” (falo dele assim porque gosto muito dele e de seu programa e imagino que ele poderia ser um bom amigo para encontrar de vez em quando no bar, para beber até cair e dar risada com as ironias da vida). Estava mais inclinada para o Steve Jobs. Afinal, tanta gente tinha lido e emitido opiniões aqui e ali (como sou palpiteira… deu vontade de fazer meus comentários também).

Ok. Nesta semana fui a uma livraria. Tinha um cartão-presente para aproveitar. Comprei um DVD, dois livros pedidos pelo Lucca (Edgar Allan Poe), dois CDs (um do David Bowie que eu queria muito) e… puxa, encontrei “Servidão Humana”. Tenho o hábito de presentear pessoas com alguns dos livros favoritos. Estou doutrinando? Ah, pode ser. Mas são bons livros. Costumo comprar sempre algo de Ítalo Calvino. Em geral, dou ou “O Barão nas Árvores” ou “O Cavaleiro Inexistente”. Já dei duas vezes “Quase Memória”, do Cony. E já tinha falado para várias pessoas de “Servidão Humana” - e uma vez emprestei a um amigo meus dois volumes da tal coleção branca. Ainda bem que eles os devolveu (embora eu não saiba hoje onde estão. Talvez na casa de minha mãe).

Mas naquele minuto “Servidão Humana” estava diante de mim. Em um volume só. Não resisti. Eu o comprei. Vou dá-lo para alguém (ainda não está certo quem). Mas não resisti de novo. Steve Jobs perdeu para Somerset Maugham. Li o prefácio da edição publicada pela Ed. Globo, de Carlos Vogt. Diz ele que Maugham anota, em 1938, que “para compensar a impossibilidade de aceitar a falta de sentido da vida, a sabedoria dos tempos selecionou três valores de duração mais permanente, procurando dar assim algum significado à existência”. São eles a verdade, a beleza e a bondade.

Genial esse Maugham. Fecho com ele. Escrevo aqui e ali sobre o bom e o belo. Não incluía a verdade nessa minha “pregação”. Por falta de inteligência minha, óbvio. Porque esse é um valor caro a todos. E teria de estar mesmo junto da beleza e da bondade.

Esses valores transparecem em “Servidão Humana”. Mas dizer isso é tão mínimo a respeito da obra que, se pudesse, daria esse livro a todos meus amigos.

Espero que um dia possam ler. E se já leram, que tenham gostado. E se já leram mais de uma vez e sentem vontade de retomar as páginas, então, somos iguais.
 
(Leslie Howard e Bette Davis no filme de 1934, ele como Philip Carey. Ela como Mildred Rogers. Em português foi intitulado Escravos do Desejo)

2 comentários:

  1. Lena,
    ontem na aula de Storytelling citaram o Tolken, com um exemplo na criação de personagens e ambientação. O cara era tão detalhista que chegou ao ponto de criar 3 línguas para construir o universo da sua obra. Acabou virando linguista de renome também. Se não tiver pra quem dar o livro Servidão Humana, olhe pra frente...Hei, hei, estou aqui! hehehe
    Parabéns pelo texto

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  2. Puxa, Andrea, meu comentário anterior não entrou. A internet caiu na hora. Falei de Tolkien. E disse que admirou quem aprendeu a língua dos elfos criada por ele (tem nego doido, né). Tolkien realmente é ótimo para inventar personagens. Sobre o Servidão Humana, espere mais um pouco e... tcham-tcham-tcham... Obrigada pela mensagem. Bjs

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