domingo, 29 de janeiro de 2012

A mulher de preto

Continuo minha saga chamada corrida. Eu chego lá. Outro dia vi um post bacana no blog do Run Keeper, meu programinha companheiro de todas as madrugadas/manhãs (exceto segunda-feira, que é dia de descanso; dia também em que o Parque da Luz fecha). O sujeito contou como estava gordo e largado e tal. Trabalhava, sim, e ganhava um bom dinheiro. Aí, o pai, doente, quase partindo, pediu para ele parar de fumar e fazer algo porque, do jeito que estava, o filho não duraria muito. O pai morreu, ele ficou um tempo deprimido. Mas aí largou o cigarro e começou a pedalar. Foi dureza, mas ele foi mais duro ainda. Essa frase acompanha todo seu depoimento. It was hard, but I was harder. Achei ótima a frase. Mais ou menos como eu me sentia – e calculo que tantas outras pessoas. Resumindo, o cara hoje corre muito e disputa maratonas.

Tenho minha meta – aquela, de correr a São Silvestre 2012. Estou só no início do meu trajeto, que digo que começou em 17 de dezembro. Na verdade, não tenho uma data precisa porque eu nem prestei muita atenção nisso. E, como já escrevi aqui, eu coloquei o projeto em pé bem de mansinho. Caminhadas leves e, aos poucos, crescendo o ritmo.

Nesse tempo considero que melhorei bem. Até me surpreendo um pouco. Eu devo ter o tipo físico próprio para alguns esportes. Não tenho força nos braços, por exemplo. Não seria boa para puxar pesos. E meu corpo ficaria ridículo se eu puxasse pesos. Não sou velocista. Pernas curtas não ajudam nesse caso. Vôlei? Sou boa para levantar e passar, mas não tenho muito impulso para dar cortadas na altura necessária (eu teria de compensar minha baixa altura com saltos dignos da seleção cubana). Futebol, sim. Sou boa para isso. E, pensando no que tenho feito, também devo ser boa para corrida em que a resistência é o mais importante.

Hoje não tenho essa resistência para encarar uma minimaratona (as novas regras do português me atrapalham... não sei se devo escrever mini maratona ou minimaratona). Mas tenho potencial. Sempre tive boa resistência. Essas pernas que tenho são herança inca. Longínqua, claro. Porém meus ancestrais viveram na Bolívia, nos Andes. Tiveram de camelar, subir, descer, vencer lonjuras. Então, acredito naquilo que coloquei lá em cima: eu chego lá.

It was hard, but I was harder. "Atlante" - Pinacoteca.

Personagens
Uma das coisas que curto nessa minha rotina ativa é encontrar pessoas. Como minha cabeça funciona como a do Bobby (do desenho “O fantástico mundo de Bobby”), vou construindo minhas histórias. Se um dia essas pessoas souberem o penso, talvez elas fiquem bravas ou talvez gostem e riam. Torço pela segunda opção.

Pra quem não conhece, este é o fantástico mundo de Bobby (o garotinho cheio de imaginação)

Ontem, depois da minha corrida da manhãzinha (quase 10 km), voltei para casa esperando minha irmã Tati chegar. Ela e a Laura iriam conhecer meu “circuito” para se animarem a criar uma rotina de caminhadas no final de semana. Lá fui eu ao Parque da Luz com as duas e mais uma bolsa com as raquetes de badminton da Laura (ela nos mostraria como jogar).

Enquanto fazia o trajeto do Bosque da Subidinha – ou a mata com cheiro de beck (eu acho que tem cheiro disso, como se alguém tivesse largado fumo ali) -, eis que surge o coreano do colete azul. Entre sussurros expliquei para as duas que esse homem eu encontro sempre que vou mais tarde (entre 10h e 11h). E sempre no sentido contrário ao meu. Passamos por ele no trecho entre as duas árvores traiçoeiras. Elas “jogam” coquinhos e formam um caminho deslizante que já derrubou um homem na minha frente (o sujeito “patinou” nos coquinhos).

Tive prazer em explicar o circuito exatamente como o imagino. Mostrei-lhes a Floresta Úmida, a terra dos sapos. Minha irmã reclamou da lama. Eu disse que até estava fichinha naquela manhã. Que ela devia ter visto o dia em que fui atacada pelo sapo assassino, o que não gosta de luz (história contada em post mais antigo). A Tati falou que aquela parte a fazia pensar em árvores que andam e assustam gente. Tipo os Ents de “O Senhor dos Anéis”. Esclareci, para tranquilizar as duas, que os sapos só aparecem enquanto não houver sol. E que, de fato, fazia tempo que não os via mais. Devem ter feito uma convenção e concordado em não mais me assombrar porque, afinal, sou boa pessoa.

Hoje, nesta manhã de domingo, claro, não o encontrei. Estava mais cedo no parque. Prefiro chegar antes do horário de abertura ao público, que é às 9h (se não expliquei antes, esclareço agora: o portão principal abre às 5h30 somente para quem quer correr ou caminhar).

Entre os tipos que encontrei neste domingo estava a mulher de branco (sempre tem uma que se veste quase inteiramente de branco e que usa tênis imaculados). Parece que sonha em ser noiva. Desta vez, em vez da caminhada contemplativa que faz, ela estava mais para contemplativa contemplativa. Seus passos estavam meio confusos. Pode ser que ela tenha vivido uma noite triste e esteja colocando os pensamentos em ordem. Seu caminhar denunciava que algo não ia bem. Em vez de fazer “tsc, tsc” na mente por estar com tanto branco, passei calmamente por ela, tentando não perturbá-la. Respeito quem sofre. Quer dizer, não sei se ela estava realmente passando por alguma tristeza. Eu imaginei tudo.

A mulher de branco me faz pensar que ela quer ser noiva...

Uma surpresa foi cruzar o Popeye no meio do caminho. Popeye é o sujeito que vem de bicicleta e que a prende ao lado do portão principal. Está sempre de short, exibindo suas pernas de batatas grossas. Nos últimos dias, no entanto, ele deixou de correr sozinho. Está acompanhando de uma mulher que tem cara e jeito de corredora. Ela não tem cara de Olívia Palito. Mas está sempre correndo com ele. Então, virou Olívia. Só Olívia. Eles correm bem. Eu os invejo. Digo que foi surpresa porque não costumo vê-lo aos domingos.

Ontem, fui ultrapassada pelo segundo dia seguido pelo sujeito que apelidei de mini Black Power. Ele não é pequeno. É alto e magro. O que está pela metade é o Black Power. A cabeleira está bem cheia, mas ele não deixou crescer como um autêntico Black Power. Deu umas tosadas na juba. Por isso, virou mini Black Power. Ou BP, para encurtar. Esse também corre. Sempre que me ultrapassa, ele o faz com a maior facilidade. Parece que não gasta muita energia. O BP também vai para a área de malhação para exercitar os bíceps. Nessa hora vejo que não é o maioral do pedaço. Os outros frequentadores são mais fortes, como o negro de careca lustrosa. 


Por falar em bíceps, cometi, mais uma vez, uma cena ridícula. Tentei levantar uns pesos que esses caras, a turma dos pesos, usam. O equipamento é do gênero: um banquinho, uma haste comprida para você pegar nos extremos e a corda que puxa o peso. Eu nem tinha sentado. Tentei puxar o peso de pé mesmo. Deus do céu, fiz uma força danada e ergui apenas alguns centímetros. O careca lustroso não disfarçou o riso. Até a Laura foi melhor do que eu. Eu disse que não tenho força nos braços.

Área da malhação. Do lado esquerdo da foto ficam os fortões. Do outro lado, gente como eu

Ontem também apresentei para a Tati e a Laura os cães amarelos do parque. E apontei o Cão Amarelo, o primeiro deles, o manda-chuva. Ele, aliás, é o que mais dorme. Mas deve ser privilégio de chefe.
Não consegui mostrar para elas o bicho-preguiça que conheci outro dia. Ele estava perto do canteiro das flores. Próximo da área da malhação. Soube que há quatro no parque. Eu só vi aquele.

Tem mais algum personagem? Ah, sim. Tem o monopolizador. É um coreano que adora se exercitar no pêndulo (um dos equipamentos do parque; ele ajuda a trabalhar os músculos laterais da coxa). O exercício é legal. O que não é legal é o homem ficar meia hora sobre a máquina. Normalmente, durante a semana, no meu horário madrugador, eu tento fazer 40 minutos de corrida seguidos de 20 minutos nos equipamentos. O ideal seria dividir esse tempo entre o pêndulo, o esqui (parece transport) e o equipamento para trabalhar os braços, mais o alongamento. Mas invariavelmente o monopolizador chega antes de mim na área e toma um dos dois pêndulos que existem. Quando ele vai com a mulher, daí não tem como usar o equipamento. Ele é o sr. monopolizador. Ela é a sra. monopolizadora. Já tive pensamentos maus. Vontade de dar uma voadora na glote e dizer “dez minutos. Esse é o tempo máximo”.

Ninguém estipula tempos ali. Não tem cartaz dizendo isso. Considero, porém, que seria de bom tom se todos respeitassem esse tempo. Se todos ficassem dez minutos em cada equipamento. Quer fazer mais? Saia. Dê um tempo para que outro faça seu exercício e volte na sequência.

Agora que eu sou prefeita do parque (obrigada, Foursquare) pretendo dar uma melhorada lá. Vou escrever ao administrador: “por favor, tem como consertar um dos equipamentos que está parado – e que nem sei para que serve porque desde que estabeleci essa minha rotina nunca vi essa máquina arrumada? Outra coisa: troque a lâmpada queimada da reta em frente ao coreto. Correr às 5h45 naquele pedaço ficou complicado, já que não há luz nenhuma. E seria um imenso obséquio se o senhor, que é administrador do parque (eu sou apenas a prefeita pelo Foursquare), providenciasse umas placas recomendando não ultrapassar dez minutos nos equipamentos, salvo se não houver ninguém? E mais placas ensinando os rudimentos do alongamento.
Tenho certeza de que todos gostariam.
Assinado, a mulher de preto”.

Fiz uma pausa no finalzinho do trecho da Floresta Úmida. Estou de camiseta preta, embora não dê para ver bem; ah, sou a prefeita do Parque da Luz, segundo o Foursquare

Nem sempre estou de camiseta preta (calça ou bermuda preta é bem mais comum), mas hoje calhou de estar nessa cor. Fica como codinome e uma alternativa à mulher de branco. 

A primeira meta cumprida!

Ah, sim! Preciso comemorar. Ontem consegui atingir uma das metas que estabeleci para 2012. Verdade que eu achava que ela seria mesmo a primeira meta a ser cumprida. Mas tenho de comemorar do mesmo jeito. Consegui andar de bicicleta. Pronto! É o fim de uma história vergonhosa para mim. Desde a vez fatídica em que meu pai me levou para dar as primeiras pedaladas numa ladeira (episódio que rendeu traumáticos machucados), nunca mais tinha tentado andar de bike. No final do ano, junto com outras quatro metas, coloquei essa.

E que glória e risos. Eu ria andando. Ainda não ando aquelas maravilhas. De novo, sou ridícula. Mas agora consegui sair da inércia e dar movimento e me equilibrar e até ziguezaguear. Preciso praticar mais. Como só pedalo aos sábados, no próximo espero ter uma experiência bem melhor para compartilhar. 

É uma vitória bacana. Quem conhece minha história sabe que eu tinha uma relação com a bicicleta parecida com a do Calvin, o molequinho criado por Bill Waterson. Acho que estou ganhando dele. Ufa, eu tinha de ganhar de alguém nesse quesito!






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