quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

São Silvestre, espere por mim



Eu não lembro exatamente quando foi, mas foi em dezembro. Os finais de semana estavam sendo difíceis. Durante a semana, tinha trabalho e isso me ocupava. Mas chegava sábado e eu entrava em depressão profunda. Eu estava com um problema com o qual não conseguia lidar. Seguindo recomendação médica, fui fazer alguns exercícios no Parque da Luz, que fica perto de casa.

Primeiro sai andando a esmo. E reparei que algumas pessoas faziam um circuito fora do passeio pavimentado. Resolvi seguir a trilha. Eu tinha mesmo de aprender a andar, como dizia a música do Foo Fighters. Então, fui lá, munida do meu velho tocador de MP3 (o iPod nunca deu muito certo comigo).

A primeira caminhada nem durou muito. Não estava com cabeça. E era só um final de semana no parque, cheio de gente. Fiz mais por dar uma volta e afastar pensamentos. E achei que seria mais interessante fotografar do que andar. Eu gosto de fotografia.



(Uma das fotos que fiz com o celular; elas estão em molo.me/lecastel)

Voltei na semana seguinte, ainda sem me dar conta do que queria realmente. De novo, um passeio curto. Olhava as pessoas, ouvia meu som. Dava uns passos. Não prestava atenção realmente em nada. O trabalho tinha acabado. Era a semana de férias coletivas.

Até que um dia resolvi caminhar direito. Fazer a volta completa pelo parque. Via os corredores e os caminhantes. Correr? Não. Sei lá como estava meu corpo. Eu estava perdendo peso rapidamente. Não tinha muita energia. No Natal, praticamente não me alimentara. A ceia com comida para todos os gostos. E eu só consegui comer uma colher de sopa de risoto - e isso ainda porque forcei (eu disse que estava com um problema com o qual não conseguia lidar? O apetite tinha sumido).

Mas depois do Natal senti que era preciso reagir de verdade. Então, fui para o parque com outra disposição. Caminhei e depois fiz uma série de exercícios nos aparelhos que estão num espaço pensado originalmente para a terceira idade, mas que todo mundo usa. Todos os que têm vontade, I mean.


(Um dos aparelhos disponíveis no parque; qualquer um pode usar)

Foi naquela semana, vendo as pessoas correndo que me veio a ideia (eu precisava de coisas novas na vida). Por que não me preparar para correr a São Silvestre no ano seguinte (leia-se 2012)? Absurdo, não?! Eu não sabia qual era o total de km da corrida. Sabia apenas que a edição 2011 estava com novo percurso e com um monte de gente reclamando da mudança da rota.

Isso, de fato, não atraiu minha atenção. Pouca coisa, aliás, atraía minha atenção naqueles dias. Meu cérebro estava embotado. Pensar na São Silvestre, no entanto, abriu um espaço na mente e no coração. Precisava de um novo objetivo, certo? Recomendação médica de novo. Ok, tinha o lado da música. Eu tinha dito que buscaria novos sons. Só que eu sempre busquei novos sons. Apenas tinha parado de me dedicar a isso por falta de tempo.

Correr, sim, era um objetivo novo.


(Esse cachorro parece morar no parque; sempre encontro com ele)

O detalhe que atrapalhava um pouco era a época. Final de ano. Não poderia consultar ninguém para me passar orientações mais corretas. Se quero atingir mesmo essa meta, a disciplina e a objetividade seriam importantes. Além, óbvio, de saber como correr sem colocar em risco minhas condições físicas.

Fazia tempo que eu estava fora de forma. Estar muitos quilos acima do meu peso habitual me deprimia. Mas até então eu nada fizera. Quer dizer, emagrecer como eu emagreci não tinha nada a ver com a vontade de perder os quilos a mais de outrora. Foi algo que aconteceu por força das circunstâncias. A depressão roubou-me o apetite, a fome, a percepção. Quando vi, tinha emagrecido. Como já me falaram, esse foi o lado positivo.

Evidentemente, sabia que não tinha força muscular para sair correndo sem ter o risco de sofrer alguma lesão. Resolvi caminhar no começo em ritmo leve. Estabeleci três voltas ao redor do parque, na trilha dos corredores e caminhantes (não sei qual o tamanho do percurso).

As três voltas eu ainda mantenho, porém acelerei bem o ritmo. Dentro do que planejei, seriam 40 minutos para caminhada e 20 minutos para exercícios nos aparelhos. Nos primeiros dias, não senti o impacto do meu empenho. Tirando o ânimo, que retornou.

Daí que parei por um curto tempo minha rotina no parque. Fiquei a primeira semana de janeiro em Ilhabela e todo dia caminhei à beira-mar, na areia, com as ondas batendo nas pernas. Quem entende de fitness saca que esse é um ótimo exercício. Com o corpo mais magro, percebi que, além do meu objetivo da São Silvestre (meio louco, admito), conseguiria cuidar da manutenção do peso com uma prática constante de exercícios. Sim, emagrecer tinha sido surpreendentemente fácil, embora tivesse sido pelo motivo errado. Calculo que perdi uns seis quilos.

Juntamente com as caminhadas, tomei outra decisão: encarar a bicicleta. Ok, confesso. Eu não sei andar de bicicleta. Na época de aprender, tomei um tombo fenomenal numa descida. E tinha desistido dela por ter me machucado muito. O desejo de aprender a dar pedaladas me acompanha tem um bom tempo. Porém eu tenho vergonha de tentar aprender em um ambiente muito público. No Ibirapuera? De jeito nenhum iria me expor ao ridículo assim.


(Mira, curiosa, confere minha bike)

Na casa da minha mãe tudo bem. Há espaço e uma área um tanto preservada da curiosidade alheia. Minha primeira tentativa foi hilária. Primeiro porque a bicicleta que tenho (ganhei num concurso de frases em um supermercado) estava muito detonada por falta de uso. Isto é, ela nunca foi usada e só acumulou poeira e umidade. O guidão está frouxo, por exemplo. E é preciso passar óleo na correia. Pensei em levá-la para um “bicicleteiro”, mas meu pai disse que arrumaria tudo (até agora não fez isso). Ou seja, eu me aventuro numa bicicleta que não está adequada para alguém como eu. Mas não desisti. Não quero ajuda de ninguém (até parece que iria aceitar a ajuda do meu pai segurando atrás…). Já acumulo algumas manchas roxas nas pernas, só que estou melhorando. Talvez no próximo sábado (só ando uma vez no final de semana) poderei dizer que dei minhas pedaladas.

Tudo isso, espero, mostre que estou realmente disposta a atingir minhas metas.

De volta ao parque, conto que o ritmo das passadas aumentou bem. Começo a reconhecer alguns dos praticantes cotidianos, como o coreano que anda sempre de colete azul - e sempre no sentido contrário ao meu. Tenho praticado meus exercícios de “madrugada”. Saio de casa para o trabalho às 8h. Então, para poder dedicar uma hora às minhas atividades físicas, tenho de chegar pelo menos às 6h no parque. Segunda-feira ele não abre. Então, esse é meu dia de descanso. Amanhã, terça, tentarei chegar lá tipo 5h45 (o portão principal abre às 5h30 para caminhadas). Está escuro, eu sei. Foi estranho sair de casa pela primeira vez na escuridão, com medo de ser atacada por… um ladrão. Mas o parque tem segurança. O maior problema mesmo é a rua.



(O relógio da Estação da Luz marca 6h30 da manhã, metade da minha rotina)

Já dei minhas primeiras corridinhas (seguindo as dicas de treinamento do Nike+, onde me inscrevi recentemente). Tenho muuuuuuuuuuuuito a conquistar. De caminhada estou muito bem. Tenho pernas fortes e os efeitos dos exercícios estão transparecendo na musculatura de coxas e panturilhas. Consegui perder um quilo no começo da rotina. Agora subi 400 gramas. Voltei a me alimentar. No entanto, quero reduzir mais um pouco o peso e estabilizá-lo. Espero conseguir isso com uma alimentação mais regrada e com o aumento do esforço físico (de modo prudente). Ainda não tive uma conversa com um especialista. Mas terei.

Afinal, eu quero de fato correr a São Silvestre. Não posso me machucar no meio do caminho. Tudo será com planejamento e bom senso. Quero metas concretas, mas que possam ser atingidas. Lá para setembro pretendo rever minha rotina e checar se terei condições de correr em dezembro de 2012. Caso ache que estou longe disso, postergo o plano. Não pretendo abandoná-lo, porém. Por isso, desejo-me aqui boa sorte e perseverança. O caso da bicicleta me demonstra que sou persistente. Que sou brasileira e não desisto nunca. Isso quando percebo o que quero fazer e o que me faz bem de verdade. Tudo isso tem sido bom. Ainda lido com a depressão. Sigo meu tratamento médico. Tenho de passar por outros especialistas. Sou obediente e assim o farei. Acho que estou no caminho certo.

Obs.: publicado no lecastel.tumblr.com em 16 de janeiro.

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