domingo, 13 de janeiro de 2013

Correndo com as galinhas

Acordar de madrugada é uma marca dos corredores. Isso é sabido. Mas o título deste post não tem a ver com levantar às 5h para se preparar para o exercício. Correr com as galinhas, neste caso, não é como acordar com o canto do galo. E também não significa que deparei na trilha com garotas muito das oferecidas. Tem a ver com encontrar com os galináceos no meio do caminho. De verdade. E isso acontece em São Paulo, não é no interior não. Explico.

Minha amiga Key (assim chamada porque não perguntei para ela se poderia incluí-la na história) está empenhada em correr. Já deu suas voltas pelo Parque do Povo (Rico), pelo Villa-Lobos (meio vazio), e, claro, pelo Ibirapuera (lotado). Está adquirindo aos poucos o ritmo. Por isso, quando saímos juntas, em geral as primeiras passadas vão coladas. Depois, ela me libera e eu vou seguindo a trilha na minha velocidade. 

Desta feita, combinamos de experimentar o Parque da Água Branca. Estou para fechar com uma assessoria esportiva para eu me preparar e ter condições de correr uma meia maratona neste ano. E eu vi que eles oferecem acompanhamento lá, assim como também fazem treinos na USP, no Ibira e em mais um lugar que eu esqueci. Queria conhecer esse local de treinamentos, portanto. Além disso, tenho uma cunhada que estava pensando em levar o filho para passear pelo dito parque. Como fazia 200 séculos que eu não entrava lá, a ideia pareceu bastante interessante. Eu e Key correríamos na Água Branca e depois eu contaria para a cunhada como estava o lugar para meu sobrinho que logo fará dois anos. 

Parque da Água Branca: pergolado. Essa é uma construção que fica mais ao fundo. Foto: Lena Castellón

Lá fomos nós, desbravar a mata da zona oeste de São Paulo. Primeira coisa a dizer que não sabíamos onde parar o carro. Key tinha lido que havia um estacionamento. Passamos diante de um portão e ela descartou de cara porque vimos umas galinhas na entrada. Galinhas? Mas eu pedi para esperar um minutinho porque perguntaria para a segurança onde estava o estacionamento. 

- Pode entrar. Aqui é um dos estacionamentos. Mas só dá para parar aqui nos finais de semana - alertou-me.

Muito bem. Chamei Key, que estava com uma cara desconfiada. "Qual o problema? Tem medo de galinha?", perguntei brincando. Minha amiga fez uma careta. Não é que tivesse medo. Não gostava. Ter medo, ela tinha de galo. Respondi que eu achava que seria apenas ali na entrada que iríamos ver esses bichos. Não devíamos esquecer que o parque é usado para exposições agropecuárias e que tais (ou era; não sei hoje). Vai que havia um galinheiro ali, naquele portão. 

Entramos, paramos o carro e fomos saudados por um canto de galo. E outro. E outro. Havia uma multidão. "O que é isso? Uma convenção de galinhas?", espantou-se a Key, com o ar ainda mais desconfiado diante do batalhão de penosas no estacionamento. Comecei a achar graça. "Tudo bem, eu também tenho medo de galos", disse para mostrar que me solidarizava. Para ser honesta, acho um horror aquela crista e não curto olhar para o bicho, mas só me impressiono com galos grandes e agressivos. Aqueles não me assustavam. 

Uma das alamedas, que trato aqui como trilhas, na falta de um caminho específico para a corrida. Galinhas e galos por toda a parte. Uma aflição para quem tem fobia de aves. Foto: Lena Castellón

Como nenhuma das duas sabia nada do parque, concordarmos em primeiro andar e dar uma volta para avaliarmos a trilha e decidirmos onde correr. Havia uma trilha, aliás? Key achava que tinha. Ficamos procurando placas indicando quilômetros. Não tinha. Mas cruzamos com alguns corredores. Era o que me bastava. Acionaria o Nike+ Running do celular e beleza. Key também usaria um aplicativo. Pegamos um caminho. Havia galinhas, muitas. E pintinhos. E galos.

- Não estou gostando muito dessa parte. Acho que não precisamos correr aqui. Vamos virar à esquerda e dar a volta para seguir aquela linha reta que ficou para trás - disse Key.

Eu estava com o espírito galhofeiro. "Não se preocupe que eu vou espantar as galinhas", falei, bancando a poderosa. "Eu sou terrível. Tenham medo de mim, ahahahahahah", soltei uma risada malévola e ergui os braços para cima de uns galináceos que saíram correndo junto com um pintinho (pobrezinho. Não tive intenção de assustar o filhote).

- Quero ver se a mãe desse pintinho for atrás de você. Ou, pior, se o pai aparecer!

Daí, resolvi me comportar porque Key, de fato, estava com medo dos bichos. Viramos no lugar combinado, pegamos a linha reta e... Puxa, havia galinhas por todos os lados. Parecia que o Link, do Legend of Zelda, ia aparecer correndo a qualquer momento. E parecia que ele tinha dado já umas espadadas (no jogo, se você bater nas galinhas, elas aumentam e te atacam, te impedindo de fazer qualquer coisa). Tinha frango até no playground! De repente, um ganso grasna.

Uma versão de fã de Link (Zelda) e as galinhas

Uma cena do jogo, com o Link pegando uma penosa (lembre-se: nunca bata nas galinhas)

- Ganso, tem ganso aqui? Gansos têm bicos serrilhados.

O playground tinha uma cerca alta e estava numa parte mais elevada. Mas deu para ver. Havia gansos zanzando, além de galos e galinhas. Estranhei. Como fariam as crianças para usar os brinquedos se os gansos são conhecidos por serem territorialistas?

- Será que o pessoal recolhe esses bichos em algum momento? - perguntei em voz alta. Andamos mais um pouco e resolvemos pegar uma trilha que cruzamos no meio do caminho. Seguimos andando e para onde a gente olhasse havia as penosas e também pombos. Key confessou que também não gostava de pombos, mas tudo bem. Desde que eles não voassem sobre nossas cabeças. Contei-lhe de uma outra amiga que tem fobia de aves. Ela nem teria entrado com o carro no estacionamento. Key comentou que estava compartilhando aquele medo. 

O detalhe é que começamos a rir porque bastava pintar um galo que a gente desviava. E se o galo vinha para o nosso lado, dava a impressão que a Key iria gritar (mas ela se conteve o tempo todo). "É ridículo a gente ter medo de galinha, mas eu entendo. Fique na boa que eu te protejo", disse rindo. Minha amiga também ria, reconhecendo como estávamos sendo patéticas. 

Santa mulher: foi alimentar as aves e os bichos ficaram concentrados em uma das alas. Deu pra desviar e correr em outra alameda livre de galináceos. Foto: Lena Castellón

Descemos mais uma trilha e novas galinhas se juntaram ao cenário. De repente, um pato no lago. Key deu um salto. "É ganso?". Eu, que entendo de bichos, olhei para ela com um sorrisinho triunfante. "Não. É um pato. Não ouviu ele falar 'quack'? Patos fazem quack. E eles andam daquele jeitinho ali", e apontei um pato branco rebolando do outro lado. Estava rindo de novo. 

Sério. Em todo nosso caminho encontramos quilos de galinhas, alguns galos e pombos (por sinal, tem um pombal no parque). Eu não achei nenhum dos bichos com porte ameaçador. Mas para a imaginação não bastam argumentos lógicos. Key tinha medo e pronto. No último trecho que percorremos antes de chegar a uma arena de areia com uma trilha pavimentada circundante  (área onde devem desfilar cavalos e cavaleiros) encontramos um "corredor polonês" com galinháceos nos confrontando. Imaginei uma rua escura do Harlem dos filmes. Com a diferença de que a "rua" era clara e não tinha mal-encarados e sim galos com cristas em pé dos dois lados. Pois acreditem: mal a gente desceu a rua e, de repente, veio um "grito". Os galos começaram a pelejar e emitiram um som alto que fez a Key botar a mão no coração: "quase morro agora". Aí eu não aguentei. Gargalhei. O "grito" também tinha me assustado e eu suspeito que gritei junto. 

- Eu sei, é ridículo - conformou-se minha amiga.

Raros eram os momentos assim. Sem bicho por perto. Foto: Lena Castellón

O resultado disso é que corremos pouco, mas corremos. Eu seguia na frente, como batedora. Não a deixei como nas outras vezes, nos outros parques. Era preciso acompanhá-la. Afinal, quem iria defendê-la do galo perverso e da galinha maligna? Tinha hora que indicava com a mão que minha amiga deveria correr mais à esquerda ou à direita, conforme iam aparecendo os galos (com as galinhas, tudo bem. Não precisava afugentá-las). Uma hora eu bati palmas para ver se um dos bichos se afastava, mas que nada. Devem estar acostumados com as pessoas. Tive de acelerar os passos para cima dele para impor algum respeito. Em um dos trechos do parque, comentei com ela que eu poderia pegar minha toalhinha... e ela me interrompeu: "e o que você pretende fazer? Enxugar os bichos. Dá licença, seu galo, mas suas penas estão muito molhadas". Key ainda fazia piada de mim, ora, ora (eu tinha pensado em enrolar a toalha na mão e dar uma 'estilingada' no ar para espantar as aves). 

Há muitas árvores no parque, oferecendo sombra.  Opção para dias mais quentes. Foto: Lena Castellón

Não devo rir dos medos de ninguém. Eu sei o que é isso. Lembro das primeiras "madrugadas" correndo no Parque da Luz, quando me deparei com sapos no meio do caminho. Tenho pavor desses batráquios. Eu gritei feito uma louca e saí fugindo, pisando até na lama, quando um deles, em vez de se afastar, pulou na minha direção. Pode uma corredora de respeito se comportar dessa maneira?

Cada um tem medo do bicho que bem quiser. Tem de respeitar essa paúra. Quer dizer, rir, eu acabo rindo de algumas situações (ficamos meio ridículos com esses nossos medinhos). Só que, se eu acabo liberando a gargalhada, não é para fazer troça ou me achar um exemplo de valentia - longe de mim; sou uma covarde. Eu rio porque a gente é humano. Bicho é quem deveria ter medo da gente. 

Agora, vamos a uma espécie de ficha técnica se você quer saber se vale a pena correr nesse parque.

Você já viu um pombal antes? Eu não. Tem no parque. Foto: Lena Castellón


- Localização: boa. Fica na região das Perdizes. Não é propriamente perto do metrô, mas de carro é fácil chegar. Tem estacionamento nos finais de semana. Para corredores, que costumam chegar cedo nas trilhas (acordam com as galinhas, não é), creio que não haverá problemas de encontrar vaga. Fique atento aos gatos. Eles gostam de subir no capô dos carros. Daí que você tem de convidá-los a sair com toda a delicadeza. Afinal, você não quer arranhões na lataria.

Não consegui resistir a esse gato: ele usa máscara no focinho... Fofo. Ops, foto:  Lena Castellón

- Trilhas: não encontrei caminhos específicos para corredores. Corri pelas alamedas e dei algumas voltas no pátio de areia, na trilha asfaltada em torno. Talvez haja um caminho mais comumente usado pelas pessoas. Mas isso não fica claro. Não há marcação de quilômetros. As alamedas estão ok. Não encontrei buracos. E tem boa quantidade de sombra.

- Características: subidas, subidinhas, um subidão. Algumas retas, muitas curvas. Em frente ao portão principal, o da avenida Francisco Matarazzo, está a principal subida. O trecho até o principal prédio do parque (a casa do Instituto Agronômico) é o mais puxado. Se pegar dessa parte até o fundo do parque, na subida o tempo inteiro, terá feito um bom exercício. 

Café em frente ao galpão onde funciona a feira de alimentos orgânicos. Foto: Lena Castellón

- Observação: se você não tem medo de galináceos, vá em frente. Se tem um pouquinho, decida se vale chamar um "batedor", como eu fui para minha amiga. Ah, se encontrar no meio da corrida gente que gosta de dar comida para as aves, agradeça e aproveite para fazer um desvio, escolhendo outra alameda, mesmo que alongue a trilha. O caminho estará livre dos bichos. Se você gosta de alimentos orgânicos, tem um barracão onde fazem uma feira cheia de alternativas. Em frente, tem um café, que me pareceu simpático. Não fomos lá porque a gente tinha já um plano na cabeça para o desjejum.

- Dica: no verão chuvoso, usar repelente faz diferença. Ainda mais para quem é sempre alvo de pernilongos, como eu. 

- História: foi criado em 2 de junho de 1929. Passou por diversas mudanças, mas sua vocação original - 
"- a preocupação com o desenvolvimento das pesquisas agropecuárias e com o lazer - manteve-se por meio dos trabalhos desenvolvidos pelas entidades e órgãos nele instalados. Novas demandas sociais trouxeram outras atividades, como programas com a terceira idade e portadores de deficiências, educação para uso sustentável dos recursos naturais, dentre outros. Em 1996, o Parque foi tombado como bem cultural, histórico, arquitetônico, turístico, tecnológico e paisagístico pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado (Condephaat)."

- Atrações: tem aquário, arena para cursos de equitação, casa de caboclo e um coreto. Tem também casas onde estão instalados institutos e museus. E uma área pergolada bem bonita. Aproveite um dia bom para fazer fotos.

Boa corrida!

Casa do Instituto Agronômico. Foto: Leandro Farchi/ Flickr da Secretária de Agricultura de SP

sábado, 5 de janeiro de 2013

E para 2013?

Corri. Consegui. Cumpri minha meta. E agora? (Isto eu escrevi logo no dia seguinte à prova, 1º de janeiro. Mas só posto neste minuto porque não tive tempo para vir aqui).

Vamos à narrativa do que foi a São Silvestre para mim. Antes, lembro da morte do cadeirante na prova, uma notícia que entristeceu quem participou da prova e também quem nem acompanhou a corrida de casa. É algo que realmente abalou esta edição e que deve chamar atenção para a categoria nos próximos anos. O que fazer? Não sei.

Bom, a prova tinha uma simbologia muito forte para mim – e isso ficou claro nos posts anteriores. Por isso, acordei com uma expectativa acima do normal diante da perspectiva de uma prova. Programei o celular para tocar às 5h40. Cedo assim, ainda que a largada estivesse programada para às 9h. Acordei nesse horário porque tinha lido que era preciso tomar um café da manhã normal (condizente com meus hábitos) três horas antes da corrida. Ou seja, tinha de fazer o desjejum às 6h. Um café com leite e pão com manteiga. Mais um suco de uva.

Eu e meu Nike rosa na Paulista, esperando tudo começar

Parti de metrô, o que foi muito bom (adoro morar perto de uma estação; facilita a vida). Encontrei alguns corredores nos vagões e captei olhares curiosos sobre nós. Cheguei na avenida Paulista, na saída da estação Trianon Masp, e saquei de imediato: o clima da São Silvestre é ótimo. Vai além de ser uma corrida. Na minha visão, ela é uma competição para os atletas de elite. E para quem está fazendo uma disputa pessoal (meu caso, por exemplo). Para a multidão que larga depois o estilo é mais de festa. Não que os corredores não levem a prova com seriedade. Eu levei muito. Mas é tanta gente brincando e festejando que tudo isso se mistura. Então, você tem gente correndo “de verdade” e tem gente se divertindo com fantasias e mensagens. E às vezes acontece de os dois “personagens” se misturarem. Na Pacaembu, por exemplo, corri atrás de quatro caras vestidos de Chaves e Quico. E eles estavam correndo mesmo, apesar de a roupa não ser apropriada.

Para muita gente, a São Silvestre é festa. E, para alguns, é festa com fantasia

Cheguei por volta das 8h20 e me instalei num canto esperando a largada. Vi o pessoal se preparando, com corridinhas e alongamentos. Gente trocando informações sobre corridas praticadas em outros lugares (tipo o Rio). E o desfile de fantasias também estava forte. Fora as bandeiras e camisas de clube. Eu me arrependi de não ter vestido a camisa do Palmeiras Run, que deixei de lado apenas porque a camiseta da São Silvestre é branca e eu pensei que seria melhor correr com roupa clara.

Houve atraso para a largada, o que me aborreceu um pouco. Se é para sair de manhã e aproveitar a faixa horária da maioria das provas, então que a largada fosse programada para as às 8h. Com o atraso e mais a demora para cruzar a linha, minha corrida começou às 9h35 e eu já fiquei pensando que pegaria um horário de calor. Não tinha como.

Tocaram a música do Vangelis que, desde Carruagens de Fogo, virou tema de corrida. Eu, de fato, senti uma emoção crescer no peito quando surgiram os primeiros acordes. Depois que a música estava na centésima execução, me deu bode. Tudo bem. Eu iria esperar para botar meu som já que estava interessada em ouvir o “locutor” narrando a largada.

Eu sentei na calçada mesmo, à espera da largada. Muitos fizeram o mesmo

E largamos. Eu lembrava da orientação de poupar energia no início porque iríamos precisar de energia no último terço da corrida (isto é, depois dos 10 km). Então, desci a Pacaembu com uma velocidade alta, mas refreei o impulso e controlei meu ritmo. Não temia cair. Mas eu não tinha ideia, naquela hora, que um cadeirante tinha perdido o controle e se chocado contra um muro no estádio (ele faleceu em consequência do acidente quando a largada da multidão nem tinha sido dada). Soube da morte do paratleta apenas depois da prova, na minha casa.

Quando estava saindo da Paulista em direção à Doutor Arnaldo, vi um palmeirense carregando uma bandeira que ainda não estava desfraldada. Tentei alcança-lo, mas a orientação de poupar energia foi mais forte. Instantes depois, ele desfraldou a bandeira e ela ficou tremulando no meio da massa. Parecia um soldado partindo para a linha de frente do combate, conduzindo o estandarte para incentivar a tropa. Eu me senti incentivada, de verdade, embora soubesse que havia poucos palmeirenses ali (o locutor fez essa checagem). 

O dia amanheceu bom para a São Silvestre. Temperatura amena. O iPhone indicou 21 graus, mas depois, no centro, o calor pegou bem

No fim da descida do Pacaembu, encontrei outro palmeirense. Tinha a bandeira do clube às costas, carregada como se fosse uma capa. O homem, um senhor de mais idade, estava mais devagar, sentindo o efeito da descida (devia ser uns 3 km). Um cara deu um tapinha nas costas dele, mas para tirar sarro. Foi o que me impulsionou. Passei por ele e gritei “Palmeiras, minha vida é você”. Só dei dois “gritos” na corrida. Nessa hora e no Viaduto do Chá, quando encontrei uma barraca onde se lia “Viva Bolívia”. Isso já era perto do km 12.

De modo geral, acho que fiz uma boa prova, dentro do meu condicionamento físico e de acordo com meus treinamentos. Acho que posso render mais. Preciso de mais orientação especializada. Isso está certo. Fiz 12 km correndo direto. Aí, tive de parar por um motivo inusitado nessas minhas histórias de corrida: fui ao banheiro porque fiquei apertada. Isso comprometeu o resto. Perdi o foco e o ritmo. Tudo bem. A ideia era terminar a prova e sentir a festa.

Minutos antes da largada. Sair de onde me encontrava levou um bom tempo. Calculo meia hora


Na Brigadeiro, comecei correndo e estava indo bem. Daí, temi não ter forças para correr bem na Paulista. E eu queria correr bem na Paulista. No meio dessa parte do trajeto, optei por andar para poupar energia. Olhando agora, foi um erro. Eu tive energia e entrei correndo bem no trecho final. Peguei um forte impulso na reta e “cruzei a linha” ouvindo aplausos. Foi bem legal. De verdade. Chorei. Era a conclusão da meta. Estava feliz e sensível.

Pontos negativos desta edição da São Silvestre (minha primeira): o atraso da largada, o perigo da descida da Pacaembu (a morte do cadeirante chama atenção para isso. Não tenho propostas porque acho legal a passagem pelo Pacaembu), a água não estava gelada (questão de logística, imagino, em virtude da grande quantidade de participantes: 25 mil, segundo a organização), ter um posto vazio com abastecimento de Gatorade (passei por um que estava desmontado; o segundo estava funcionando), não ter sido informada de que haveria tais postos do Gatorade, lanche pós-corrida (com toblerone e outras coisas secas; prefiro banana e maçã), inscrição cara (R$ 120).

Pontos positivos: clima de festa, trajeto que inclui pontos famosos da cidade, torcida apoiando o tempo todo, boa distribuição de postos de abastecimento de água, posto de Gatorade, largada e chegada na Paulista, proximidade do metrô, tradição.

Minha corrida: boa, apesar da quebra do ritmo depois do km 12. Poderia ter feito mais. Meu tempo foi de 1h58 e minha colocação foi de 2.829. Se não tivesse parado para ir ao banheiro e se tivesse corrido toda a Brigadeiro, certamente teria uma melhor posição. Mas tudo bem. Afinal, são 25 mil corredores na prova.

Minha colocação não foi grande coisa, mas, como dizem, eu corri com 25 mil corredores. Dá para ficar contente. Foto de Marcelo Ferrell/ Gazeta Press


Próximos passos


Assim que concluí a São Silvestre, senti que 2012 tinha terminado. Não tinha mais meta para cumprir. Atingira praticamente tudo o que tinha me proposto para o ano (exceto uma delas, que estabeleci com um asterisco, o de saber que talvez o objetivo não fosse cumprido. Não porque eu não quisesse cumprir, mas porque isso independe da minha simples vontade).

Terminei minha prova. E agora? Fiquei pensando um pouco sobre planos para 2013. Não os estabeleci de verdade. Já falei que gostaria de correr uma meia maratona. Creio que vai ser por aí meu caminho neste ano. Ao buscar meu kit de prova, recebi informações sobre a meia de São Paulo, em março, a maratona de São Paulo (que tem a modalidade 25 km), em abril, e a meia do Rio, em agosto.

Nesse caso, acho que vou entrar num grupo de corrida para contar com o auxílio de um especialista. Não vou estabelecer exatamente como uma meta, mas será um projeto que vou acalentar em 2013. Terei até agosto para saber se consigo colocar o plano em ação. Meu feeling diz que vou conseguir.

Eu não tenho maiores metas para este ano que se inicia. Manter a atividade física poderia ser uma. Porém entendo que ela já está dentro do meu dia a dia (que bom). Incorporar o ciclismo, sim, pode ser um objetivo interessante. Só que antes preciso de uma boa bicicleta. Emagrecer? Ah, talvez sim. Talvez não. Não me preocupo neste momento. Escrever algo diferente? Aí sim. Acho que isso eu posso fazer. Se vai ser interessante, ah, isso são outros quinhentos.

De resto, para este ano desejo que as pessoas sejam mais tranquilas e pacientes. E que aceitem mais as diferenças. Feliz 2013.

Foram dez provas em 2012. Nunca estabeleci esse número, mas calhou de acontecer. Minha décima conquista foi essa aí: a da São Silvestre. Ela tem um quê especial. Obrigada a todos que me apoiaram (mesmo sem saber)