domingo, 31 de maio de 2015

O dia em que me chamei Luana

Meu passaporte carimbado
Breve introdução

Comecei escrevendo a respeito do dia em que me chamei Luana no exato dia em que o fato aconteceu. Mas a data passou e ela não importa mais. Escrevia um post no Facebook sobre o dia em que subi a Machu Picchu. Como o achei incompleto (havia tanto a ser dito) e meus olhos se fechavam sob o peso do cansaço, publiquei o princípio do relato na rede social só para mim. Ficou um registro para que eu me lembrasse dele depois. Às vezes faço disso no Facebook. Ninguém precisa ler tudo o que escrevo, obviamente. Só que tem hora que esse “ninguém” é a mais pura verdade. Ninguém mesmo.

Agora, no entanto, posso escrever sobre esse dia. Tenho tempo e estou descansada. O detalhe é que a inspiração daquele dia se foi. Ou melhor, foi-se aquele grau de inspiração. Não vou recuperá-lo mais. Era como uma fagulha. Tudo o que eu poderia escrever influenciada por aquela fagulha mágica não tem como emergir. Poderia ter sido, talvez, o meu melhor texto. Quem diria. Meu melhor texto e ninguém o conheceu. Nem mesmo eu.

Deixemos de elucubrações. Vamos ao relato - e ao post até então exclusivo para meus olhos.

...

O post pra ninguém

Esta história deveria começar às 3h30 da madrugada, quando acordei para me preparar para Machu Picchu. Mas começará ao redor das 16h, quando atravessei uma das pontes que liga os dois lados da pequena cidade de Águas Calientes, a base para subir à cidade inca. Já estava no meio da ponte quando percebi:

Cruzando uma ponte de A. Calientes
- Ei, meninas, está acabando.
Uma das minhas duas companheiras de viagem deu seu costumeiro sorriso doce. Eu continuei.
- Hoje foi um dia cansativo pra caraio (mudei a palavra para não ofender leitores mais sensíveis). Mas estou feliz. Estou feliz por tudo que fizemos nestes dias.
Antes que meu discurso virasse uma coisa brega, apontei para o alto.
- E ainda estamos no meio destas montanhas. 
Parei e fiz alguma piada sobre alturas e montanhas para não deixar aquele momento ainda mais piegas... 

Mas é fato. Estes dias no Peru têm sido ótimos. Tivemos alguns perrengues (minha tendinite no indicador da mão direita no início da viagem e o mal da altitude, por exemplo). Porém esta jornada vai muito bem, obrigada.

Hoje estava programado para ser o ápice da nossa viagem. Mesmo ainda tendo alguns dias pela frente, creio que está confirmado para mim como ápice. 
No caminho de Machu Picchu, no ônibus

O caminho para Machu Picchu começou pra mim às 3h30 quando acordei para tomar banho e me arrumar para a jornada. Vesti segunda pele, camiseta, blusa, casaco (anorak). Virei uma cebola: estava vestida em camadas para enfrentar o frio da madrugada e o calor da montanha sob o sol. Chegamos à estação de ônibus na intenção de pegarmos o primeiro ônibus a chegar em Machu Picchu. Não conseguimos. Às 4h30 da manhã já tinha gente na fila. E o ônibus sairia às 5h30. Bem, pegamos o segundo.

Entramos em Machu Picchu bem cedo. Não eram nem 7h da manhã. Queríamos ver o sol subindo entre as montanhas e iluminando a cidade dos incas.

Visto o ‘nascer’ do sol entre as montanhas (falo mais outra hora), fomos encontrar o guia do grupo.”

Lendo agora, creio que este não seria o melhor texto da minha vida. Mas tudo bem. Vou seguir com o relato, dias depois de ter iniciado esta escrita.

...

Elvis em Machu Picchu? Eso no ecsiste 

No dia anterior à subida a Machu Picchu tínhamos conversado com um guia chamado Félix, com quem fechamos o tour. Ele disse que se não fosse ele a nos conduzir seria seu parceiro, Elvis. Claro que não esqueci esse nome. Chegando ao ponto de encontro (para onde fomos depois de termos visto o nascer do sol na cidade dos incas), tratei de buscar o Félix. Não o encontrei no local marcado. Sabíamos que o grupo se chamava Kosmos. Sem saber a aparência do Elvis, eu e minhas duas parceiras de viagem ficamos esperando alguém se manifestar ou perguntar pelo Kosmos (havia vários grupos no local, todos com nomes desse naipe). Enquanto isso, passei a fazer piadas infames (maldita mania). “Elvis no morió. El está en Machu Picchu”. Imaginei também como seria o Elvis. “E se ele viesse vestido de Elvis, com aquelas roupas brancas cheias de franjas. Ele poderia até cantar. Are you lonesome tonight...” 
Na noite anterior à subida, "invocando" proteção

Estava no maior embalo quando virei pra trás e fiquei vermelha e com o maior calor no rosto (efeito da vergonha). “Hola, Félix. Como estás?”. Felizmente (olha o trocadilho), não era o Elvis a escutar a piadinha. O Félix fez sinal de que estava tudo bem e eu me tranquilizei um pouco (apesar da vergonha). É provável que muitos tenham feito piadas com Elvis. Já estava achando que seria ele a nos levar no tour quando apareceu outro cara com um colete escrito Kosmos. Logo tasquei:

- Você é o Elvis?

- Não. Sou Wilfredo.

Epa, esse cara não estava na história. Bem, Elvis não apareceu mesmo. E quem ficou com a gente foi o Wilfredo. Como desforra involuntária, ele sacou do bolso um caderninho cheio de nomes e fez uma chamada ali no ato. Era para saber quem estava faltando. Lá pelas tantas falou:

- Luana Castellano?

Hein? Seria eu? Tinha alguma semelhança. Aguardei uma reação do grupo. Ficou o silêncio. Ele repetiu o nome e continuou sem resposta.

- Luana Castellano?

Hesitante, perguntei se não poderia ser o meu nome e o pronunciei. Wilfredo me olhou, um tanto confuso, e releu o caderninho.

- Cuantos más?

- Dos – e apontei minhas companheiras de férias. Na lista dele era Luana e mais duas pessoas. Seria eu?

O Félix, que voltava, fez que sim para o Wilfredo. Era eu.

Putz, ele não era Elvis. Nem eu, Luana. Mas era assim que estava escrito. Wilfredo corrigiu meu nome em cima da anotação e parecia que estava tudo bem. Mas a história não acaba assim.

O homem prosseguiu lendo nomes...

- Helena Tatiana?

- No. Mi nombre és Lena, no Helena. Esta és Tatiana – adiantei-me, apontando para uma das meninas que estavam comigo, mas ela me cutucou, pedindo para ficar quieta. É que uma mulher tinha erguido a mão. Era ela a Helena Tatiana. Surpreendi-me. Quem se chama Helena Tatiana?! Ok. E quem sou eu pra questionar esse tipo de coisa?! Eu me chamo Lena Karina. 

Nosso guia: Wilfredo
Antes de passarmos pela catraca do parque, Wilfredo foi ler de novo os nomes. O grupo era grande. 

- Fulano? Beltrano? Luana?

- Lena – corrigi.

- Lena – repetiu, escrevendo mais uma vez meu nome sobre o papel, que já devia estar bem rabiscado.

E na sequência da checagem dos nomes veio Helena Tatiana. Quase corrigi de novo ao ouvir “Helena”. Mas lembrei da moça e calei-me antes de causar mais confusão.

Passamos pela catraca. Andamos um pedaço. Ele ia explicar alguma coisa e, raios, resolveu ler os nomes de novo.

- Fulano? Beltrano? Luana? No! Luna?

- Lena!

Wilfredo fez um gesto no estilo “PQP”, impaciente com ele mesmo. Escreveu em cima do nome mais uma vez.

- Creo que hoy serás Luana.

Até me conformei.

...

O primeiro guia de Machu Picchu

Em 1911, o americano Hiram Bingham revelou MP ao mundo

Wilfredo foi um bom guia (na viagem que fiz pelo Peru contei com a ajuda de quatro guias, que foram legais, cada um a sua maneira). Gostei do estilo dele. Sério, consciente da necessidade de preservação do local e desejoso de valorizar a cultura peruana. Várias vezes ele tirou um livro da bolsa para falar mais sobre o lugar por onde andávamos. Qual? A cidade perdida dos incas, escrita por Hiram Bingham, o professor de Yale que revelou ao mundo a existência de Machu Picchu. Quer dizer, a cidade já era conhecida pelos campesinos locais. E até por outro cara, que deixou seu nome marcado numa pedra da cidade anos antes do achado de Bingham (heresia). Como Wilfredo observou, o sujeito não tem lá grandes méritos porque tirou proveito das coisas que encontrou na cidade perdida. Tanto que manteve em segredo a existência do lugar. Teria de ler mais a respeito para formar uma opinião sobre o cara. 

Sei que o que mais me empolgou foi a maneira como Bingham chegou ao local. Ele procurava Vilcabamba, a última cidade inca. Fez uma primeira tentativa. Nada. Fez outra. Nada. Aí, perguntou a um campesino, de sobrenome Arteaga, se sabia de algo. O homem respondeu que não, mas observou que tinha uma cidade nas alturas e escondida na mata. Depois, chamou o filho, Pablito, de 11 anos, para que ele levasse o americano para o lugar onde costumava brincar. Pablito é considerado o primeiro guia de Machu Picchu. Fotos do garoto estão no tal livro (que comprei em Cusco). 
Em 24 de maio de 2015 cheguei à cidade de Machu Picchu

Um dia glorioso em Machu Picchu. Para nunca esquecer

Que dizer?



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Da cidade à montanha

Não vou me deter muito sobre Machu Picchu, a cidade. Tem tanta coisa a dizer que levaria um bocado de tempo numa mesa com cerveja para isso transcorrer na boa. Adorei cada momento lá. Aprendi um bocado. BTW, Wilfredo, você é bacana, mesmo me chamando de Luana.

Muita subida e descida. Mas com paciência se chega longe

O importante a destacar é que, para mim, o esforço de andar pela cidade não foi lá pesado. Sim, tem escadarias, tem a parte alta. Mas tirei de letra – vamos lá... estou correndo há três anos (ainda que meus treinos sejam muito irregulares). Encontrei três bolivianas de La Paz que ficavam esbaforidas. Estavam fora de forma e deviam ser sedentárias. E não tem nada a ver a altitude nesse caso. La Paz está muito mais alto do que Machu Picchu. Aliás, a cidade está a “apenas” 2.400 metros acima do mar. Cusco está a 3.400. Ou seja, nem para a gente – eu e minhas duas parceiras – aquela altura estava afetando. O que afetava era o sol na hora do tour. Do frio da manhã, antes do amanhecer, àquele horário a temperatura deu um salto. Eu já imaginava. Por isso, vesti-me feito cebola. Com o passar das horas, as camadas de roupa que eu tinha foram entrando na mochila. O calor se instaurou no local. 

Nós, as três, esperando o sol iluminar MP. Estava bem frio. Não eram 6h

A gente tinha um acesso que incluía a subida à montanha. Por causa desse ingresso extra plus mega especial, podíamos sair e voltar três vezes ao sítio arqueológico. Mas havia um horário para que entrássemos na área da montanha. Lá fomos nós a esse trecho, orientadas pelo Wilfredo, que encerrou o tour com o grupo todo no mesmo momento. Foi simpático. Ele agradeceu e saiu de cena como um artista que deixa o palco. 

A montanha Machu Picchu é aquela ali, ó. Alta, não?
Pegamos o caminho da subida (tinha de ser pela parte mais alta), nos desviamos de algumas lhamas, que atraiam os visitantes e enveredamos num caminho estreito. Lá, havia um controle de acesso. Vimos quando chegaram algumas pessoas perguntando o que poderiam fazer para subir a montanha. O cara respondeu que nada poderiam fazer, que deveriam ter comprado antes o acesso. “Benza Deus, Liliana”, pensei, agradecendo mentalmente à chefe da agência que organizou todos nossos tours nos dias em que ficamos em Cusco.

Assim, saímos da cidade e começamos a subida da montanha Machu Picchu, a que deu nome ao local descoberto por Bingham. Os primeiros metros até me pareceram fáceis. Hey, há três anos que corro. Fácil?! Tudo ilusão. O caminho é constituído basicamente de escadas. A montanha tem cerca de 3.100 metros. É maior do que o Huayna Picchu (montanha jovem), que fica em frente à cidade dos incas e que aparece em todas as fotos. Alguém me disse que o Huayna Picchu tem 700 degraus. Machu Picchu deve ter duas vezes mais... Chute, mero chute. Mas a trilha é punk. Na primeira vez em que tive de subir apoiando-me também nas mãos, com degraus estreitos, pequenos e íngremes, ainda nos metros iniciais, tive consciência de que a tarefa seria complicada. No topo da montanha há mais um controle, que fecha o acesso às 12h30. A razão eu não sei. Deve ser medo de que alguém fique mais tempo lá e não consiga voltar. Subir é difícil. Descer também. 

As subidas na cidade não me cansaram

Minhas parceiras no início da trilha
Fomos subindo, subindo, subindo. Eu doida para ver terrenos “planos”. Tudo o que não tinha escada eu dizia que era plano. Minhas companheiras de viagem responderam que não era plano. Claro que não era. Só não era escada, o que soava como alívio. O sol castigava também. Havia trechos de sombra e havia trechos de calor forte, com os raios castigando a gente. E havia trechos de abismo. Não escorreguei nenhuma vez, nem dei topadas. Mas a subida exigia muito dos músculos, principalmente das minhas pernas curtas – eu tinha de fazer um esforço maior para galgar certos degraus. Chegou uma fase em que eu liderava o trio e escolhia os momentos para dar uma descansada (procurava sempre sombras).

Numa dessas, vimos uma brasileira subindo. O marido tinha ficado para trás e iria alcança-la no topo. Era esse o combinado.

- Qual é o seu nome mesmo? – perguntou-me ela.

- Lena.

- Ah, é você. Aquela que o guia chamava de Luana.

Rimos.

A moça em questão era a Helena Tatiana. 

Ela prosseguiu a subida. Estar sozinha às vezes facilita. Nós continuamos a subida, sentindo o esforço e o calor. Esqueci de contar que antes de avançar muito eu tirei a roupa em plena trilha. Calma. Não foi nada demais. Eu estava com uma camiseta no estilo segunda pele debaixo de uma camiseta de manga curta. Tive de tirar a segunda pele porque estava quente demais. Aproveitei um momento em que estávamos somente as três naquele pedaço da trilha e executei meu breve striptease. Não foi nada demais realmente. 

Degraus grandes, pequenos, à beira do abismo. Tinha de tudo
Já estávamos com quase duas horas de subida, mais ou menos, quando as forças se foram. Acho que eu ainda teria gás para tentar galgar mais degraus. Mas minhas parceiras já não conseguiam. Então, encontramos uma clareira, de onde víamos o topo e a estreita e a tortuosa passagem até o alto da montanha. Nesse espaço, também enxergávamos o Huayna Picchu e a cidade. Tudo láááááá embaixo... No primeiro instante, bateu a sensação de fracasso. Afinal, a escada para o céu estava ali, nos desafiando. Mas havia também a preocupação com o bem-estar. A subida tinha custado caro a minhas parceiras. E não chegaríamos ao topo até às 12h30. Ou seja, fizemos uma escolha consciente. Eu não queria seguir adiante quando minhas companheiras queriam começar a descida naquela hora. 

Desse modo, depois de tirarmos umas fotos e aspirarmos o ar da montanha, descemos. Embora meus músculos fossem menos exigidos, minha concentração teve de aumentar. Talvez eu não seja uma pessoa muito preparada para descidas. Além disso, creio que por ser pequena meu corpo acaba sendo projetado muito para frente. Se a descida é muito forte, a gravidade vai me jogando mesmo. Não consigo impedir muito meu corpo de cair ladeira abaixo. Usei bastante os “freios” do tênis (um calçado apropriado para trekking). Mais para o final da trilha, senti dois dedos meio esfolados de tanto que tive de frear a descida. 

As três com o rio Urubamba ao fundo. Ainda subimos muito mais depois desse lugar


O longo caminho, com acesso separado. Não adianta ter ticket para a cidade


Quando passamos pelo abismo, deu um bolo na garganta. Eu estava preocupada com uma das meninas que tem medo de altura. Lamentei não estar na frente naquela hora. Acreditava que isso poderia ser melhor. Como isso poderia ser melhor, não tenho ideia. Mas, de qualquer forma, ela foi bem. Mesmo com medo, agarrou-se à parede e às pedras e desse jeito foi descendo os degraus que tinham uma profunda queda à direita.

Eu e Tati até onde conseguimos subir: a cidade está lá embaixo
A volta foi muito mais rápida que a ida. No fim, chegamos ao “controle” e nos deparamos com dois argentinos, que logo sacaram que somos brasileiras. 

- Hey, Brasil, vocês chegaram ao topo?

- Não – respondi, apertando os lábios, num sinal de desapontamento. - Chegamos perto.

- Ah, foi como na Copa...

O que eu podia dizer?

- É. Foi.

Mas, por outro lado, não foi 7 a 1. Perdemos para a montanha, como muitos perderam. Porém termos chegado até onde chegamos constitui uma pequena vitória. Se tivéssemos iniciado a trajetória mais cedo, poderíamos ter dosado mais a energia e, quem sabe, teríamos alcançado o topo. Não sei. De toda forma, o que ganhamos foi importante. Depois daquela primeira sensação amarga de vermos o alto da montanha sem atingi-lo, veio o reconhecimento do esforço. Bastava olhar para baixo. Aquela montanha não é para qualquer um. A gente encarou. Não chegamos lá em cima, ok. Mas ter feito essa jornada foi muito legal. Só posso agradecer o momento que vivemos lá.

Fora que... bem, isso me dá alento a tentar de novo. Talvez em dois anos eu volte para Machu Picchu. Aí vou enfrentar a montanha mais uma vez. Mais cedo. E com mais preparo, espero. Aguarde-me, velha montanha.

Alegria, meninas, que a jornada foi dura, mas valeu a pena

De volta da subida. Junto comigo, Colin, o coelho viajante
...





O amanhecer 


A cidade ainda sem estar banhada pelo sol
Quando alguém diz que vai ver o nascer do sol em Machu Picchu, é possível que se pense em um horizonte largo e o brilho dos primeiros raios da manhã invadindo a cidade e as pupilas. Não é assim.

O dia amanhece e você ainda está no ônibus subindo uns dois ou três quilômetros até a entrada do parque (tem gente que faz esse caminho a pé). Ver o nascer do sol em Machu Picchu é, na verdade, ver o momento em que o sol ultrapassa a altura das montanhas e começa a iluminar, pouco a pouco, a cidade dos incas.

É um tanto difícil descrever a sensação. Acho que depende um tanto da sensibilidade da pessoa. Eu estava disposta a vivenciar bem aquele momento. Despi-me de vários racionalismos. Senti o frio, tremi um pouco. Enquanto o sol não chega, a temperatura parece ser menor do que é. Faz todo sentido que os incas venerem Inti, o astro-rei.

Enquanto aguardava o amanhecer, observei as pessoas. A imensa maioria preparava suas máquinas. Muitos sorriam. Todo mundo encapotado. Os cliques soavam aos montes. Registros, registros, registros. E por que não? Um instante como aquele fica na memória, mas também pode ficar em fotos e vídeos.


Colin antes do "amanhecer"
Então, os primeiros raios saíram por trás das montanhas. Foi uma pequena comoção. Eu senti um calorzinho subindo. Possivelmente vinha do coração. Os raios atingiram o alto do Huayna Picchu. Não havia som, não havia música, exceto o murmúrio das pessoas e do vento. Aquilo me pareceu tão lindo que senti os olhos marejarem. Ah, eu não sou disso. Porém aquilo era realmente tocante. O sol se erguia, lentamente e a cidade se iluminava. Pensei em amigos, em pessoas queridas, em gente que eu queria por perto, mas que estava longe. Os olhos se umedeceram ainda mais. Comecei a agradecer. Foi um ato quase impensado. Simplesmente brotou na minha mente uma série de “obrigada, obrigada, obrigada”. Agradeci um monte. Pensei de novo nos amigos. Pedi que todos sejam felizes. Soa bobo. Óbvio. Discurso de miss. Mas foi sincero. 

Ver o sol nascer em Machu Picchu é uma experiência que penetra na alma e arranca sensações que você até podia achar que dormiam, mas que existem. Em Machu Picchu senti-me mais perto da vida do que poderia imaginar. Deve ser coisa dos apus. Não sabe o que é apu? Está aí algo bom para pesquisar. ;) 

(*Ou leia mais abaixo*)


Atrás da cidade tem essa cadeia de montanhas. O sol avança


O povo esperando Inti chegar
O sol lançando seus raios sobre o Huayna Picchu

O sol, enfim



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Thanks

De novo, tenho muito a agradecer. Viajar ao Peru é algo incrível. E foi ainda melhor graças às minhas companhias. Às pessoas que ajudaram nesse trajeto mais diretamente (valeu, guias!). Às pessoas que estavam distantes, mas que ficaram em meus pensamentos. Elas sempre me dão alento. Enfim...
Tenho 200 mil fotos registrando esses 11 dias. Mas aqui só vou colocar mais algumas relativas a Machu Picchu, entre a chegada e a partida.
Ah, sim: Apus são as montanhas. Ou o espírito das montanhas. Os incas admiravam toda aquela cadeia, todas aquelas alturas. Eram sagradas. Quando olhar para uma montanha, tenha respeito. Sempre.
:)

Backpackers partindo de Águas Calientes. E a gente chegando...



Nosso lado backpacker. Ah! Mochila grande como essa não entra em MP (um visitante morreu pq foi atingido pela mochila de um cara que tinha se virado de repente. Ele se desequilibrou e despencou de um andar p/ outro, caindo sobre pedras)


Águas Calientes é uma cidadezinha bem pequenina

Chegamos em MP e nos instalamos aqui primeiro. Estava feliz como criança

Há muita coisa a aprender em MP. Recomendo guia

Alguém me chamou?


É tanta beleza ;)


Espelhos d´água. Para ver estrelas? Não há certeza disso. Detalhe do reflexo. Junte cabeça e corpo :P


E tem muita vida na cidade. Flores e pássaros


As três janelas!


Colin e a casa do vigilante lá no alto


Thanks!