sábado, 25 de outubro de 2014

O jogo mais divertido do ano

Sábado 25 de outubro de 2014. Ademir da Guia em campo. No novo estádio do Palmeiras
Já vi muitas partidas. Estádios foram diversos, inclusive fora do Brasil. Neste 2014, colecionei ótimas histórias do futebol - afinal, foi ano da Copa. Mas hoje diverti-me como poucas vezes. Foi o dia de abrir as portas do novo estádio do Palmeiras para o velho esporte bretão. Quer dizer, o Allianz Parque recebeu os torcedores em outro momento, porém com bola rolando... a primeira vez foi neste sábado, 25. E como foi legal.

Allianz Parque em seu primeiro jogo: a partida de "despedida" de Ademir da Guia

E a torcida satisfeita de voltar para a casa. Uma bela casa
O jogo foi uma homenagem a Ademir da Guia, eterno camisa 10 da Academia. Antes de falar da partida, quero dizer que nunca fui atrás de nenhuma celebridade para puxar o saco. Só tem uma exceção e foi por causa do Divino. Isso ocorreu muitos anos atrás. Era uma partida de Copa exibida num evento descolado, cheio de globais e estrelas da música. Eu o vi num canto, sossegado. Mal acreditei que estava assim tão "esquecido" pelos demais. Daí, me aproximei sem jeito. Não sabia o que falar. Ele me viu e eu arranjei coragem para contar que o admirava e que ele tinha sido o primeiro jogador a chamar minha atenção. Eu era uma criança quando escolhi meu time. Conhecia poucos nomes, mas o dele, ah... esse eu tinha guardado bem. A história saiu assim, meio confusa, meio envergonhada. "Nunca faço isso. Desculpe se atrapalho. Mas eu só queria dizer isso". Ele respondeu que não tinha problema, sorriu e balbuciou um "obrigado". Éramos dois tímidos naquela hora.

Estádio está nos preparativos finais para receber seu primeiro jogo oficial. Há cadeiras ainda cobertas

A homenagem ao Divino e a "estreia" do futebol no Palmeiras ganharam espaço na TV - olha o helicóptero acompanhando a festa lá do alto 

Antes do São Marcos, não conseguia pensar em ídolo maior para o Palmeiras. Hoje, eles dividem a paixão palestrina. Isso se viu no jogo de homenagem ao Divino. Ou jogo de despedida, como batizaram. Ademir foi a grande estrela do dia. Ele recebeu mais uma placa por tudo que representou para o clube. Foi até chamado de "sir" pelo Paulo Nobre (presidente do Palmeiras). Achei bobo usar "sir" porque Ademir da Guia não precisa desse título de nobreza inglesa. Para quê? Para parecer chique? Não tem a ver essa escolha. A agremiação é italiana. O "sir" ficou deslocado. Fora que não combina com o nome. Não casa. Não combina. O "Divino" já é mais do que bom. Divino só tem ele. Sir tem um monte.

Marcão com o filho. Outro grande ídolo do clube

E um momento ternura

Mas vamos ao jogo. Ademir ficou no time branco, equipe que tinha também o Marcão, o Galeano, o Denilson. Quando o goleiro entrou no gramado, o público veio abaixo, gritando aquele conhecido canto que começa com palavrão e termina com "melhor goleiro do Brasil". Também estava na equipe outro ídolo do clube: Evair. "Eô-eô, Evair é um terror. Eô-eô, Evair é um terror", entoou a torcida. No time verde, entraram Cafu (aplaudidíssimo), Rivaldo e Cleber, entre outros. Que lindo rever a segurança que era Clebão na zaga... Ah, saudades.

Time Verde e Time Branco em campo. Gol do Palmeiras em qualquer situação

Os jogadores perfilados, prontos para o embate

São Marcos repetindo sua famosa cena, mas desta vez nas novas metas do Palmeiras

Os primeiros minutos foram só alegria. Ademir pegava na bola, o povo aplaudia. Ademir fazia um passe bonito, assobios. Mas aí veio o time verde, que era mais jovem, e voou uma bola em direção ao gol. Só que São Marcos pulou bem e salvou a bola. Salvou? Não salvou? Ora, seria gol do Palmeiras. Mas seria defesa do Palmeiras. Foi engraçado. A torcida pulou e vibrou do mesmo jeito. Adoram o Marcão. Começamos a rir.Num lance que teve uma bela assistência de Evair (ah, saudades), o juiz marcou pênalti contra a equipe verde. O povo se agitou. Quem bateria seria o Divino. Só podia. Ademir foi para a marca do cal. Sérgio, o goleiro do time verde, se preparou. A torcida pegou seus celulares para registrar o possível gol. E o camisa 10 bate. Na trave! Foi uma comoção. "Ah, que pena". Daí, veio um gaiato: "Invasão!"

Evair comemora a marcação do pênalti. Sérgio conversa com o time. Ademir segura a bola. E a torcida atenta

Ahahahahahahahah. Quem ouviu, deu risada e repetiu "Invasão". Seu juiz, volte a jogada. Mas a partida continuou. "Esse jogo é engraçado. Você torce a favor e contra", comentou mais um. E entre os choques de barrigas salientes (ah, a idade), as trombadas dos mais lentos e pesados em cima dos mais jovens, os dribles experientes dos mais velhos dando os lampejos do brilho do passado, entre tudo isso, teve mais um pênalti, porém a favor do time verde. Acho que nasceu de uma descida em alta velocidade do Cafu, cuja vitalidade foi percebida por todos. Diante disso, outro gaiato gritou: "Volta, Cafu. Eu tenho de aguentar o Wendel"... e os risos se sucederam.

O Cafu resolveu tirar a camisa que vestia e dá-la para o Ademir da Guia. Sim, porque levaram o Divino para a marca do pênalti. Ué, ele não é do time branco?! Não importava mais. O camisa 10 colocou a camisa verde por cima e foi lá bater. O Marcão se preparou e... gol!!! O estádio inteiro comemorou.

Ademir, de camisa verde (trocada com Cafu), bate. Marcão pula...
Goleiro de um lado, bola do outro...
Festa do camisa 10

Festa da torcida

- O primeiro gol do estádio tinha de ser assim. Tinha de ser do Ademir da Guia - bradou alguém atrás de mim. Fazia todo o sentido do mundo. O Palmeiras marcou, o Palmeiras tomou. Tudo bem. Era gol do Divino.

E a partida estava tão leve e tão cheia de alegria que, num ataque do time branco, deu bobeira num jogador. Acho que foi a falta de costume, tantos anos passados já. Ele virou para trás e lançou a bola... para o juiz. E o juiz... passou a bola para um outro atleta de branco. Tabelinha! Ahahahahahahaha. A torcida riu.

Ô, seu juiz, tá querendo jogar?! ;)

O jogo permitia arrancadas (dos mais jovens, claro). O jogo permitia embaixadinhas, como alguns dos veteranos fizeram. O jogo permitia reconhecer as habilidades de velhos astros - como a elegância de Ademir em campo. Em determinado momento, quando rolava o segundo tempo, um dos atletas fez falta no time verde. E um velho zagueiro, com a autoridade de seus cabelos brancos, sacou do bolso um cartão amarelo e o aplicou no faltoso. O juiz? Eu não sabia onde ele estava. Devia ter virado as costas, sei lá. Claro que a torcida gargalhou com aquele amarelo.

Jogo de belos passes, jogo de lances corridos, jogo de barriguinhas salientes, jogo de cabelos brancos, jogo de embaixadinhas, jogo de histórias, jogo diferente

A partida terminou 3 a 3. Um empate legal. Saímos tranquilamente, ainda rindo de alguns momentos. Sim, foi o jogo mais divertido do ano para mim. É bom assim, quando não tem a tensão de ganhar. Quer dizer, é bom sentir essa tensão e vê-la depois convertida em satisfação por uma vitória. Mas ali, naquela manhã de sábado, não se sabia o que era tensão. Só alegria. E que belo estádio!

Só alegria

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Todo ano tem de rolar Franz Ferdinand

Franz Ferdinand é certeiro pra mim: bom show. Sempre

Se eu não tivesse visto o show do Franz Ferdinand de 2014, certamente estaria arrependida. Os escoceses batem ponto no Brasil já tem sete anos. Perdi apenas a primeira apresentação. Não foi por falta de esforços. Era aquele show do U2 que tinha gente botando até o avô na fila de ingressos - que loucura foi aquilo.

Desde que me lembro, fui a primeira dos meus amigos mais chegados em música a falar do Franz Ferdinand. Eu apresentei a banda para minhas irmãs, parceiras de muitos shows e donas de gosto apurado para a música (a família aqui é exigente). Acho que os fãs do FF são muito fãs. Adoram o som. Quem não conhece bem não me parece muito disposto a se aprofundar na música que eles fazem. Diria que estão perdendo boas oportunidades de cantar, dançar e ver uma banda se apresentando com consistência, energia e entusiasmo que contagia (tá soando como rima... perdão).

O show de ontem (é, terça-feira) no Espaço das Américas foi legal. O que eu mais gostei deles até agora foi o feito na The Week. Foi o show em que o Alex Kapranos dizia "quebra-tudo" e o guitarrista Nick McCarthy saiu andando pelas paredes (mais ou menos isso, ahahahah). Não viu?! Ah, que pena. Foi ótimo. Naquela vez eles quebraram mesmo.

Agora, sinto que eles já são de casa. Uma crítica diz que o público já não adere tanto porque deixou de ser novidade, embora o show da atual temporada esteja divulgando o álbum Right Thoughts, Right Words, Right Action, do ano passado, mas que não ficou muito conhecido. É. Novidade não é mais. E a casa não lotou. Afinal, são três anos consecutivos dos Franz Ferdinands no Brasil (Lollapalooza foi dez, por exemplo). Mas sei lá. Deve ter sido preço dos ingressos. Quem entende os caras sabe que vai ter música boa. E agito.

Definitivamente, não faltou agito ontem. Público cantou junto, dançou, vibrou, fez tudo que rola numa boa noite de música. Eu capturei em vídeo apenas um momento do show, quando os escoceses tocaram "Ulysses". Já registrei outras canções com os caras no palco, em outros anos. Achei que não precisava mais. O pessoal saca quem são os FF. Só que na hora pensei que iria gostar de ter meus amigos mais chegados ali comigo. A gente ia pular, cantar, interagir com o Alex Kapranos (que lembra meu irmão caçula, Allan).

E ia sair do show ainda cantando "This Fire", o hit que fechou a noite, na maior alegria. Ficar ali, entoando nas ruas, a caminho do carro "This fire is out of control/ I'm gonna burn this city" é muuuuuuuuuuito bom. Então, o vídeo é pra fingir que a gente estava junto na hora, celebrando um bom show.

Franz Ferdinand, a gente se vê em 2015, hein. Temos nosso #encontromarcado.
Bjs, Alex. Bjs, turma. Obrigada e #quebratudo.



Para quem saber o setlist, tem aqui: http://www.setlist.fm/setlist/franz-ferdinand/2014/espaco-das-americas-sao-paulo-brazil-3cf651f.html