Dia de sol, muito sol |
A questão é que não é isso que me importa mais. Não corri minha terceira São Silvestre para fazer tempo. Fiz por diversão. Porque seria legal disputar a 90ª edição dessa prova tão tradicional. Hoje, dia 31 de dezembro, pela primeira vez desejei ter algumas pessoas comigo. Porque não se tratava de vencer um desafio pessoal, como nas vezes anteriores. Era simplesmente o prazer de cumprir o trajeto e fechar o ano com a prova. E seria bacana se tivesse algumas pessoas comigo. A gente nem precisaria correr muito (mas de vez em quando sim, né). Eu teria a paciência de esperar, caso fosse com alguém menos experiente. Teria prazer em esperar (como se eu fosse uma super campeã de corridas... tsc, tsc, tsc).
Prova de personagens, figuras, gente animada |
Bom, a corrida deste ano não foi das melhores. Já imaginava até. Foram 30 mil inscritos, fora a pipoca. No primeiro posto de água, teve uma muvuca tremenda. Nunca parei na prova por causa de excesso de gente. Hoje, parei. Era o fim da Pacaembu e se criou uma verdadeira muralha humana. Quebrou-se o ritmo. Eu quebrei o meu, pelo menos. Lamentei porque era apenas o começo e eu podia render mais.
Mais um personagem: o surfista prateado |
Ainda em casa. Quase pronta |
Foi muito difícil sair da confusão. Houve gente que desistiu e resolveu seguir direto para a ponte que fica ao lado do Memorial. Devia ser pipoca desencanado, que não tem nada a perder. Eu não cortaria nunca o trajeto. Prezo muito pela prova.
Alguém me passou um copo da água, no meio da bagunça criada em torno de uma das poucas caixas que ainda tinha a bebida. Foi uma mulher. Meu agradecimento para ela. Que ela receba muita água para beber nesta vida.
Também não chequei a temperatura para saber se a prova deste ano foi mais quente do que as de 2013 e 2012. Eu senti como se fosse. O calor pegou quando eu estava começando a descer a ladeira que leva ao Pacaembu. No ano passado, só coloquei o boné no fim da Pacaembu. Desta vez foi no começo. O sol estava forte demais.
Acho que não bebi tanta água assim. Na verdade, peguei todos os copos dos postos, mas usava 90% dele para molhar o corpo. Joguei muito no pescoço e nos pulsos. A travessia pela Marquês de São Vicente, que não tem sombra, me custou muito. Quer dizer, todo mundo sentiu o sol. Meu treinador disse até que parecia ter um sol para cada um. Bom, eu sentia que tinha dois sóis em cima de mim. Não sei lidar muito bem com o calor. Normalmente, corro cedo (6h, 6h30) ou à noite. Esse solão de 9h, 10h, 11h é muito esforço para mim. Então, a Marquês foi meu maior desafio. Não parei de correr. Segui na meta. Reduzia a velocidade às vezes, porém me arrependia. Isso significava mais tempo debaixo do sol.
O povo esperando a largada. Recorde de público: 30 mil inscritos |
Continuo achando chato que as pessoas não tentem jogar copos e saquinhos de Gatorade no lixo. Fica muito sujo o caminho para os outros. E tem lixeira. Basta procurar um pouco. Tudo o que peguei e consumi eu joguei no lixo. Não. Calma. Teve um copinho lá pelo km 12 que acabou no chão. No entanto, não foi minha culpa. Perguntei para três mulheres que faziam a limpeza se elas queriam a água. Eu não tinha encostado minha boca no copo. Só tinha usado metade do líquido para jogar nas costas. Uma delas fez que sim. Aceitou meu copo. E eu esperei que ela bebesse. Nem sei por que fiz isso. Daí que a mulher não bebeu e jogou... no chão. No lugar em que a companheira dela estava limpando. Confesso que fiquei chateada.
Pernas para que te quero - faltavam minutos para a largada |
Outra coisa que foi ruim, na minha avaliação. Nas duas edições anteriores tinha banheiro químico. São raras as provas que têm banheiro durante o percurso. Nas duas São Silvestres que fiz, precisei passar por um. Deu um aperto danado, o que acho que era psicológico. E eu parei por volta do km 10. Nas duas vezes anteriores. Não é que este ano senti de novo a vontade de fazer xixi? Pois, com as mudanças no trajeto, fiquei procurando o banheiro a partir do km 10. Não vi nenhum. Imaginei que teriam mudado de km. Que nada. No Largo de São Francisco, me aproximei de dois policiais e perguntei se o posto deles tinha banheiro. Porque eu não estava vendo nenhum da organização.
- Não tem - disse um, fazendo cara de triste.
- Sabe onde tem algum?
- Não sei.
- Este ano eles não colocaram banheiro químico - observou o outro.
Eu fiz que sim. Tinha percebido, mas não queria acreditar. Enfim, mudanças. Fechei a prova sem ter ido ao banheiro. E não é que a vontade passou quando eu estava terminando de correr a Brigadeiro?
A torcida te apoia o tempo inteiro |
Este ano eu senti mais o calor. No final desse trecho, já estava pensando em colocar o boné |
Aí, já na Paulista acelerei o que podia nos metros finais porque eu gosto dessa sensação de entrar voando. Boba, né. Mas é legal. E as pessoas te apoiam. "Vai, falta pouco, corre".
Depois, tive de andar mais um quilômetro (acho) para encontrar um copo d´água (que estava fresca, a única fresca de toda a prova) e mais uns metros para poder pegar minha medalha. Ê, organização! Os lanchinhos eu nem olhei. Dei mais uma volta para poder encontrar o apoio da minha equipe de corrida. Comentamos o problema da falta de água e foi isso. Aí, partimos para o novo ano.
Esse comecinho pega muita gente. Descida não é essa fichinha, não. Engana |
Na edição deste ano, não vi a Emília. Mas como tinha Chaves e Chapolin. Aliás, cruzei com um grupo grande deles, do Chapolin Colorado. Cruzei com noivas (homens vestidos de noiva, inclusive) e freiras. Acho até que havia uma freira mesmo. Coitadas delas. Aquele hábito e aquele calor. Mas corriam as mulheres. E como. Outras coisas curiosas: os caras que pararam numa lotérica, perto do Largo de São Francisco, para apostar na Mega da Virada. Que doidos. E os caras que pararam no boteco, no comecinho da Brigadeiro, para tomar umas porque o calor estava assassino. Senti inveja.
Essa ponte da Rudge cansa. E depois disso não fiz mais fotos. O sol estava de lascar e eu só queria saber de sombra |
Para 2015, eu desejo o que sempre desejo: conquistar o mundo. Mentira. Desejo que seja bom. Apenas isso. Não pretendo fazer elucubrações.
Não estabeleço nenhuma meta. Não. Não quero metas dessas de exigir planejamento (tirando as do trabalho porque aí é outra história). Quero apenas poder me livrar de certos problemas e fantasmas. Quero poder dizer "sim" mais vezes. Quero ver mais vezes minha família e meus amigos felizes. Porque felicidade é mais legal quando compartilhada. Torço por ver mais pessoas felizes. Aí, quem sabe...
Feliz 2015.