segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Correndo por música

Mais uma São Silvestre se aproxima. E mais uma vez disse por aí que não estava preparada. Tenho de rir. Porque essa ladainha persiste. Será que um dia estarei preparada? Uma amiga corredora, mais experiente que eu, respondeu que estou. Segundo ela, a gente sempre pensa que poderia ter feito mais. Mas, no final, a gente cumpre a meta. De fato.

A corrida se tornou algo bom da minha vida. Não é sofrimento. Exceto quando acho que estou muito mal preparada para uma prova e aí fico maquinando o que poderia ter feito para não me encontrar naquela situação, arrependida e temerosa. A corrida é também cabeça.

Eu, a corrida e a música (nos fones)

Bem, apesar desse esclarecimento, conto que vou para esta São Silvestre, a 90ª edição, com a consciência que deveria ter treinado mais. O problema é que trabalhei muito. E excesso de trabalho rouba a energia necessária para a gente vestir a roupa de correr - que se dirá da energia necessária para a atividade física propriamente.

Às vezes,  me pego pensando nisso: por que a gente dedica tempo extra ao trabalho e não dedica tempo extra para aquilo que te faz bem de um modo geral? Não é uma crítica ao trabalho (gosto do meu ofício). Mas uma crítica ao fato de desequilibrarmos nossa agenda diária em favor de uma atividade, prejudicando outra. E normalmente a gente faz isso em nome do trabalho (que é o que paga as contas). Raramente o faz em nome do corpo e da mente. Houve dia em que saí de uma reunião que se demorava mais do que o previsto com o argumento de que iria perder o treino com o meu time de corrida (que tem horário fixo). As pessoas do grupo, que acompanham essa minha aventura, entenderam. Mas em outra reunião, que também avançou, joguei a toalha. Depois, fiquei me maltratando mentalmente por não ter nem tentado chegar ao parque (local do treino). Olhava o relógio e olhava minha bolsa com a roupa e o tênis. E lamentava.

Resultado é que não deu mesmo para treinar como acho que deveria ter feito (e não estou falando de nada extraordinário). Vou para a São Silvestre no espírito da diversão. Não estou despreparada. Não é isso. Mas não poderei fazer bonito, como se fala. Vou curtir ao máximo.

Agora, vamos ao ponto da música. Meu último treino antes de fazer o relax pré São Silvestre (sem correr para poupar os músculos) foi de 10k. Uma corrida suave, sem fadiga. Dois dias antes tinha feito pouco mais de 6k e cansei (seis quilômetros era o mínimo; queria ter feito uns 8k ou 10k). E quatro dias antes tinha feito outros 10k muito na boa.

Terminado meu último treino, avaliei o que tinha feito de diferente entre os dias. Por que não rendi no dia dos 6k e nos outros foi tranquilo? Ok, tem dia que você não acorda para aquilo. O psicológico tem seu peso. Mas o motivo principal, creio, foi o tipo de exercício. Era uma distância pequena: 6k. Não era para ter cansado. É que corri 2k em ritmo suave e um km em ritmo puxado. Aí, mais 2k na paz e outro quilômetro acelerando. Essa é a explicação: o pace mais forçado. Preciso treinar mais esses ritmos intervalados para melhorar meu rendimento futuro. Nos dois treinos de 10k eu mantive o pace regular. Outra coisa que entendo que influenciou: a música.

Tem corredor que não gosta de se exercitar com fones nos ouvidos. Cada um tem seu estilo. Eu gosto. Gosto de entrar na trilha do parque e alternar um pouco o ritmo em virtude do som. Tem música que leva a acelerar. Outra te acalma, diminui seus passos. Tem aquela que te faz cantar no meio da corrida (e se eu consigo cantar é porque estou com fôlego).

Na rua a coisa muda de figura. É preciso prestar muita atenção no que está ao redor. Ninguém quer ser atingido por um carro. Na USP, por exemplo, recomendo não usar fones porque tem muito trânsito. Mas num parque... puxa, para mim faz diferença. Na São Silvestre, com todo o circuito fechado e protegido, não vejo problemas em correr com meus fones.

Entre esses três treinos que mencionei, dois eu fiz ouvindo uma única música. Ah, imagino alguém se agitando, murmurando "que horror". Humm, quando se trata de uma canção em que você está viciada, não é horrível. Podem dizer que é doentio... Aceito. Mas eu podia estar fazendo coisa pior ;)

A tal música é uma nova do Foo Fighters: "I'm a river". Combinou muito com minhas passadas no parque. Diria que foi perfeita para o meu ritmo. Pretendo correr assim na São Silvestre, principalmente porque não tenho intenção de disparar em nenhum momento (salvo na Paulista, se tiver pique). Meu pace será nessa toada, pelo menos uma boa parte da prova. Depois, libero o MP3.

Foo Fighters - I´m a river (começa calminho, aí esquenta, aí diminui um pouquinho, aí acelera de novo... aí você canta, viaja, sonha e, quando vê, acabou mais um quilômetro. "The measure of your life is that what you want").



Outros sons que escuto em corridas listo abaixo. Estão no meu MP3 (não uso o celular para escutar música). Para minha primeira meia maratona, montei uma lista esperando que quando chegasse a hora do Phoenix eu pudesse correr lindamente. Nada. A prova terminou e eu ainda não tinha passado pela sequência do Phoenix. Essas canções continuam lá, no MP3, esperando o momento de usá-las. Não sei se vai rolar isso na São Silvestre. Mas tudo bem. Tem uma série de sons legais que estão no meu equipamento.


Quem quiser conhecer...

Phoenix - Lasso (sintam as batidas da bateria no começo. Parece que te preparam para dar uma acelerada. "Where would you go/ Where you would go with a lasso/ Could you run into/ could you run into/ could you go and run into me")




Phoenix - Entertainment (dá vontade de dar uns pulinhos ou alternar os passos como se estivesse dançando. Aí, você estabiliza e segue no ritmo. Mas canta, de vez em quando, "entertainment/ show them what you do with me" ou "I love, I love, I love, I notice")


Disclosure - Latch (essa é mais para moderar. Correu forte? Precisa recuperar? Eu vou bonito quando toca esta... Também dá para cantar o refrão e balancear o ritmo na base do som... "Now I've got you in my space/ I won't let go of you/ Got you shackled in my embrace/ I'm latching onto you". Vê se não dá)


South Central - Machine Gun (confesso que parece mais batidão para academia. Mas eu curto. Precisa de força para encarar uma subidinha - subidão é outra coisa, pls? Acho legal. Tem uma hora que você ouve "fire". Então, taca fogo na subida)


South Central - Skream (é uma sequência que coloquei. Daí que eu já associo. Se toca uma do South Central, tem de tocar a outra. Essa também é para acelerar. Tem um determinado momento que você vai ser levado a acelerar. Se ouvir, vai entender)


(se você achou muito pesado, tem uma música deles, dessa dupla inglesa, que está mais leve. Humm, leve? Não tenho no MP3, mas curto "The Day I Die").


Florence and The Machine - Dog Days Are Over (ok, vamos mudar o ritmo. Mas sem diminuir muito a passada. E ainda com estilo. "Run fast for your mother/ Run fast for your father/ Run for your children/ for your sisters and brothers").


Foo Fighters - Long Road To Ruin (essa eu associo ao meu cansaço e à disposição de superar a fadiga. Aquele esforço que você busca no inferno, se preciso. "Come now, let's leave it all behind/ Is that the price you pay/ Runnin' through hell/ heaven can wait". Bom, tenho muitas músicas do FF no MP3).


Daft Punk - Get Lucky (tá bom. Você deu aquele esforço e agora sente o fôlego fugir e a perna pesar. Diminua o ritmo. O importante é seguir adiante. "We've come too far/ to give up who we are/ so let's raise the bar/ and our cups to the starts").



Kodaline - Brand New Day (ainda recuperando energia... E olhando para os lados, para as pessoas, pra sua jornada. Correr mexe com as ideias também. "I'll be flicking stones at your window/ I'll be waiting outside 'til you're ready to go/ Won't you come down? Come away with me". "Think of all the places we could be/ Think of all the people we could meet").



Peter, Bjorn and John - Second Chance (sou muito indie mesmo. Mas essa dá para retomar um pouco do brilho do começo. Contrarie a letra e diga pra você que você terá uma segunda chance. Cante o "uh-uh" e curta o tamborim. Tamborim? Ah, não é. É aquele troço que parecem duas sinetas e que você bate com baquetas).


Rage Against The Machine - Killing In The Name (tá, eu não sou essa coisa fofa toda, não. E eu quero tentar pegar um pouco mais forte. Tentar pelo menos. Essa música é de força. Não é de velocidade. Mas vamos lá... Força! Come on! "I won't do what you tell me! Fuck you, I won't do what you tell me". Vai crescendo nessa fúria interna).



The Vaccines - Blow It Up (cacilda, não sei terminar esta lista. Mas essa música me dá pique. Blow it up, blow it up. Já corri "dançando" na trilha do parque, curtindo os solos... O lance é que na sequência vem "Post Break-Up Sex" e eu continuo dançando e cantarolando. Isso deve ser bom. Desanuvia a mente, embora não afaste o cansaço).


The Black Keys - I Got Mine (resolvi terminar com Black Keys, a banda que mais ouvi em 2014, segundo o Spotify. Gosto demais dos moços, especialmente do Dan Auerbach, o vocalista e guitarrista - o outro cara da banda é o baterista. Escolhi essa música, mas o MP3 tem um monte de Black Keys. Esta canção tem uns piques, umas melodias mais viajandonas e aí volta a força da guitarra. Você termina a música querendo ter energia sobrando para mostrar que você pode mais. A letra tem aqui).



Meu MP3 tem muito mais música. Tem Radiohead, The Strokes, Queens of The Stone Age, Imagine Dragons, Joni Mitchell (provocando emoções na trilha), Jorge Drexler (lindo! "Tengo una canción para mostrarte"), Kevin Johansen, Lou Reed, Nina Simone, Oasis, Stereophonics (amo... Que voz, Kelly Jones. Flutuo nas suas baladas. "You're my Sunday. Make my Monday"), Temper Trap, Two Doors Cinema Club, Franz Ferdinand, The Subways, TV on The Radio, Vampire Weekend, Tulipa Ruiz, Gram (o velho Gram), Morrissey, k.d. Lang, Chemical Brothers, Asaf Avidan, Arcade Fire, Smashing Pumpkins, Moby, Manu Chao, Eddie Vedder, The Jam... putz, é uma verdadeira jam. Tem trilha de filme, música latina, japonesa. Até Chico Buarque tem no meu som. Tudo para eu poder ter variedade e, na hora, decidir que ritmo vou usar conforme o momento.




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