sábado, 17 de novembro de 2012

Novembro, bichos e outras coisas

Já gostei muito de novembro. Mas a vida muda. A gente muda. A gente voa e se transforma
No passado, gostava de novembro. Hoje não mais. São circunstâncias. Mas novembro é um mês diferente para mim, sem dúvida.

Em novembro, eu brincava: dia 17. Não haveria dia mais bacana. E encontrei várias pessoas fazendo aniversário no mesmo dia que eu. Sortudos! Eu me divertia.

Montagem que a Laura faz pra mim. Com a bonitinha da Lizzy
Nunca lamentei fazer aniversário. Não lamento. Isso quer dizer viver. Ficar mais velho? Que importa? Isso significa evoluir. E, se possível, aprender (ensinar não digo porque falar que tem coisas pra ensinar, como se fora um mestre, é muita pretensão. Os outros é que devem dizer. Nunca você. Evidentemente, isso não se aplica quando se trata dos filhos em tenra idade. Aí, sim, você ensina: açúcar demais faz mal, não pode chupar pilha, se continuar mexendo assim no gato ele vai te arranhar).

Nunca lamentei novembro. Fica para o final do ano. Não tenho nada contra finais de ano, exceto que você se obriga a se reinventar porque é tradição repensar a vida. Mas esse finzinho me parece legal porque dá cara de que o bom está para chegar. O bom não fica para o final?

Mas a vida mudou. Minha percepção também. Como já escrevi aqui.

Novembro nunca mais será o mesmo. É uma pena. Gostava tanto de você...

Por isso, decidi que este ano não faria nada pelo meu aniversário. Talvez nem no próximo. Talvez nunca mais. Eu e novembro nos desentendemos, por assim dizer. Mas tudo bem. Que ele continue sendo primavera. E bonito. Para mim, ele sempre foi o mais bonito.


Morrissey fez uma canção para novembro: November spawned a monster. Eu curto

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Tenho um certo bode (epa!) de gente que fala de bicho como se falasse de ser humano. Não quero parecer muito radical e causar dor ou braveza em quem pensa o contrário. Mas bicho é bicho. E já é bom o suficiente que seja visto dessa forma.

Não gosto de madames que vestem seus bichos como gente e gastam fortunas para deixa-los engalanados como humanos bobos. O coitado do bicho não pediu isso. Que essas madames façam psicoterapia. O amor e o cuidado dispensam enfeites. 

Escolhi de propósito: Loony está com uma gravata de Natal. Quando me refiro às pessoas que enfeitam seus bichos eu falo do exagero de vestidinhos, sapatinhos, apliques... Essas coisas

Também não curto quem detona os humanos e diz que só os bichos valem a pena. Não é verdade. Conheço muita gente boa. E essas pessoas valem todo seu peso em ouro. Quem prefere detonar nossos demais pares da sociedade e classifica-los como escória é porque quer desistir da sociedade, mas sem abrir mão dela. Viver em sociedade implica em enfrentar os dilemas que surgem porque isto é uma comunidade, com todos seus seres imperfeitos e diversos. Dos animais, o ser humano é o que mais têm consciência de seus atos perniciosos. Mas é também o que mais têm capacidade de atos generosos em nome de quem não faz parte de seu sangue, de seu clã. Uma leoa defende com garras e dentes (literalmente) suas crias e as crias de suas companheiras, quando surge um novo macho dominante (que mata todos os filhotes porque quer ter seus próprios herdeiros). Mas uma leoa não defenderá os filhotes indefesos de um guepardo de um ataque de hiena. 

A cidade pode parecer dura, mas é só a gente que poderá transformá-la. Isso se a gente não quiser abrir mão da sociedade em que vivemos


O ser humano pode nos encher de raiva em certos momentos, mas nós nos igualamos a esses pares se nos deixarmos dominar pelo ódio e agirmos sem lucidez. Ódio impregnando a gente só pode ser danoso.

E há aqueles que realmente são criaturas elevadas. Como surgiram Chico Xavier, Irmã Dulce, Madre Teresa, Gandhi? De que fornada saíram? Ou mesmo minha antiga professora de latim? Que gente fantástica é essa que nos faz pensar que ainda precisamos crescer muito para atingir nosso melhor status de humanidade? Ainda bem que existem para nos inspirar. 

Sempre tem gente para nos inspirar...

Sempre. Mesmo entre as pessoas mais comuns...

Ou, então, minha mãe, uma batalhadora desde sempre. Que tem defeitos, mas que nos criou da melhor maneira possível. Que nos ensinou muitas coisas (obrigada, mãe), entre elas que devemos valorizar o que é bom, e não colocarmos o que é ruim em primeiro plano. E que me ensinou que ajuda a gente presta sem esperar por paga nenhuma. Isso é ajuda!

Chega agora dessa minha defesa do ser humano. Quero falar da minha gata. Sim. De bicho.

Esta é a Loony, aventureira pronta a te cheirar para saber quem você é

Loony é como outros gatos que tive. Discordo de quem diz que gato não se apega ao dono e sim à casa. Meus gatos se apegaram à gente. Mira que o diga. Foi a gata que mais mudou de casa, o que deve ter estressado muito a bonitinha. Ainda assim, até hoje ela me ama. E eu sei que me ama porque, quando a gente se encontra, trocamos olhares de sentimentos mútuos. Eu sinto. Ela sente. Ela não é gente. É gato. Mas a gente se entende. Eu, como humano imperfeito que sou. Ela, como gato. Ela ronrona, me felicita. Me olha com seus olhinhos azuis. Gata siamesa linda e redondinha. Agora já é uma senhora (para os parâmetros felinos). E como eu a amo. No dia em que ela se for um pedaço de mim irá junto. Um pedaço bom (ah, meu Deus, que perigo isso. Vai sobrar mais da parte ruim).

Mira, uma lady dentre os gatos. Elegante, discreta e companheira


Mas eu quero falar da Loony. Ela é uma gata nascida na rua. Sem raça, sem dono. Foi resgatada com uma marca de queimadura de cigarro na ponta do rabo (quem foi malvado assim, não sei. Mas um dia aprenderá que isso não se faz. Gatos não merecem ser tratados como são por muita gente. Não merecem ser perseguidos. Não merecem ter imagem negativa).

E nasceu espevitada a tranqueira. É um foguete. Corre pela casa. Voa. Dispara feito um foguete. Às vezes é teimosa. Até feroz. Ela gosta de tocaiar. Pula na gente, saindo de um esconderijo, e nos agarra pelas pernas, como se fosse um leão pulando sobre a mesa. Ou melhor, como se fosse um tigre. Loony é tigrada.

Loony filhote mostra como é danada desde pequena.

É doidinha como diz o nome. Mas tem alta sensibilidade. Não é a única assim dentre as gatas da minha vida. Quando eu morava com ela, Mira vinha me ver se me percebia com medo ou alguma tristeza. Ou então vinha do nada. Surgia na porta do meu quarto e esperava que eu liberasse sua entrada. Tinha hora que eu liberava. Noutras, não (quando estava arrumando o quarto, por exemplo). Ela sempre respeitou isso. Eu dizia “agora não”. E ela se virava e ia embora em seu caminhar tranquilo, zen.

Loony não pede licença. É uma “folgata”. Há dias em que pula na porta do meu quarto para abrir. Eu vou lá e fecho (não tranco). Dali a pouco, ela pula de novo. Como se avisasse: “não adianta que se eu quiser, eu abro”. Atrevida.

"Folgata"

Por não pedir licença, ela vem e me salva das horas amargas. Estou lá, triste e escondida. Que nem aquelas aves marinhas atingidas por desastres ecológicos, pelas manchas de óleo na água. Não peço socorro. Que ave pede socorro? Elas ficam ali, tentando levantar as asas pesadas de óleo negro (vi recentemente um documentário sobre o desastre no Golfo do México; daí porque pensei nisso).

Ainda bem que vem ajuda, como aquelas pessoas que resgatam pelicanos e gaivotas. E que levam as aves e pacientemente cuidam delas para tirar o óleo das penas, e assim ajudar a devolver a impermeabilidade que as protege da água gelada e do frio.

Já me vi um pouco assim. E Loony veio me resgatar. Lambia minhas mãos e meu rosto. Era reconfortante sentir esse cuidado. Como se ela tirasse o óleo das asas.

Outro dia ela correu para mim e me festejou, como se tivesse sonhado algo muito ruim comigo. Veio me lamber, me acarinhar, se enroscar em minhas partes e miar enquanto ronronava. Parecia tão feliz: “ainda bem que você está viva. Aquilo foi só um sonho”. Eu imagino que tenha sido isso. Foi mesmo muito carinho e amor dado de repente. Só porque eu saí do quarto.

Ela te surpreende

Então, é isso. Bicho é muito bom. Especialmente se você souber interagir com ele, respeitando-o como bicho que é. Loony é minha parceira. Lizzy veio agora – e como é fofa e linda, com essa carinha e jeito de filhote sem raça definida. Mira é outra companheira. Denki, uma Azul da Rússia (ou quase), é da Laura. Não me ama tanto assim (hehehehe). Tudo bem. Mas já tive o Fellini, meu inesquecível siamês. Meu gato que também me amava e que subia nos telhados e nunca sabia descer de lá. Eu tinha de resgatá-lo. Um dia ele subiu e ficou no alto da garagem em um lugar impossível de eu alcançar. Esperei que ele fosse para o outro lado do telhado, onde poderia colocar uma escada e captura-lo, mesmo recebendo todos os arranhões que me daria por causa do medo (já tinha passado por isso antes). Mas ele nunca apareceu do outro lado do telhado. Nunca mais foi visto. Talvez ele ainda ande pelos beirais e telhas, distribuindo sua simpatia (foi o gato mais simpático que tive). Talvez tenha ido embora para sempre.

Esta é Lizzy, a filhotinha que parece irmã da Loony

De certa forma, eu ainda espero por ele. Já tive essa fantasia de, andando pela rua onde morei outrora, ver um siamês e achar que era ele. E eu chamava: “Fellini, Fellini”. As pessoas deviam pensar que aquela era uma doida cinéfila. Nunca foi atendida por esses gatos que chamei.

Fellini ainda está por aí. Quem sabe no paraíso dos gatos, me olhando lá do alto e dizendo “daqui também não sei descer”.