sábado, 22 de novembro de 2014

Eu podia estar correndo... mas estou falando de cozinha

Perdi a hora. Justo eu que gosto de acordar cedo. Mas tem dia que simplesmente não dá. Meu corpo já não responde tão bem aos meus anseios.

Daí que resolvi trocar a corrida que seria apressada por um café da manhã mais caprichado. Nessas, bati o olho em um livro que ganhei de aniversário (valeu, pessoal do GNT). Chama-se "Na Cozinha com Nigella". Curto ver programas de cozinha. Às vezes não é para aprender receita. Às vezes é só pra ver como os apresentadores preparam os alimentos, como se movimentam, o que falam, do que riem ou para dar uma olhada nos utensílios e na organização. Certas cozinhas são um luxo.

Página do livro "Na cozinha com Nigella"

Então, enquanto esquentava leite, abri o livro para fazer uma rápida checagem. Uma das primeiras fotos que vi foi uma tigela com tomate cereja. "Prefiro tomate normal", pensei. Sim, não é todo mundo que gosta de ser fino assim com ingredientes. Diante disso resolvi bolar minha lista de lições ou manias ligadas à vida na cozinha. Provavelmente não vai servir para ninguém. Mas tudo bem. Eu só estou querendo brincar um pouco...

Uma saladinha de tomate com abacate. Humm


* Tomate é bom. Aquele tomate que você compra no supermercado ou na feira, não importa qual dos 200 mil tipos. Quer dizer, tomate é bom se você gostar de tomate. Quando a gente não suporta um determinado alimento isso deveria ser respeitado. Nada, portanto, de falar assim "tenho certeza que você não provou da maneira certa". Não curto quando alguém tenta insistir em me fazer provar abacaxi, doce de abacaxi, variante de suco de abacaxi, assado com abacaxi.

* Retomando a história do tomate... No meu caso, está beleza uma salada com tomate e queijo, folhinhas de manjericão (alguém falou caprese?). Ou pode ser sem queijo (acho que está crescendo esse negócio de intolerância à lactose). Só com fatias finas de cebola e um bom azeite. Tomate cereja? Ok. Fica bonitinho. Mas o sabor do tomate grande, pra mim, é muito melhor. Troco tranquilamente o tomate cereja por um comum.

* Se você tolera cebola e quer colocar na salada, fatie bem fininho, em discos redondinhos e lave na água. Não sei se tira propriedades nutritivas, mas pelo menos a cebola não fica ardendo. Você quer saber se isso tira propriedades nutritivas? Bem, sugiro o Google.

* Da mesma forma, sugiro lavar a escarola depois que você a cortar bem fininha (como se fosse fazer a couve da feijoada) para fazer salada. Ela fica menos amarga. Lave e deixe escorrendo para a salada não ficar aquela coisa molhada. Não gosto de pegar folha pingando água. Ahn, lavar as tiras cortadas fininhas acaba com as propriedades nutritivas da escarola? Também não sei. O Google deve responder. Acho.

* Gosto de cozinhar sozinha. Nada contra companhias. Mas se eu tenho de fazer um monte de coisa, prefiro colocar meu som no ambiente (santo mp3) e ficar isolada. Penso melhor. Resolvo melhor os problemas. Sem falar que não preciso ficar com um olho na pessoa e outro na panela. A gente conversa depois na mesa. Outra vantagem (na minha opinião) de cozinhar sozinha é que você evita palpites. "Mas você não usa alho?!", "Não é pouca água?", "Ah, eu coloco mais pimenta. Sempre". 

* A Nigella recomenda que você não se desculpe ao servir porque às vezes ninguém nota se um prato não saiu exatamente do jeito que queria. Faz sentido. Às vezes pode ser uma bobagem. Mas também não acho justo tratar convidados como cobaias. Uma vez, para um jantar que fiz para amigos, resolvi preparar uma sobremesa que era para ter consistência de gelatina, porém, ficou parecendo aqueles doces árabes de goma. Contei aos amigos qual era minha intenção, uma delícia gelada qualquer, e mostrei o resultado para eles. Pedi para fingirem que era o tal doce árabe se resolvessem provar. Eles riram. Teve gente que comeu, apesar daquilo não ter gosto de nada. Que será que foi a gororoba que fiz? Não lembro que diabo de sobremesa era. Foi meu primeiro jantar feito para a turma e fora da casa da minha mãe. Teve até uma dose de sucesso. A comida estava boa. Perfeita, não. Mas boa. Minha mãe tinha passado lá e me ajudado com a carne. Eu não tinha experiência em organizar jantares. Se eu soubesse que o mais divertido é comer tranquilamente e ficar rindo com os amigos, teria feito coisas mais informais. E teria largado mão da sobremesa anotada de livro ou revista. Teria comprado logo sorvete em vez de insistir naquele troço! Então, ao cozinhar para amigos, a regra que vale para mim é: não experimente. Sirva aquilo que você sabe fazer com segurança. Experiência você faz antes, com as pessoas mais chegadas. Como o filho (se for adolescente ou mais velho. Poupe crianças), o marido, a irmã. Mãe? Cuidado. Mães podem ser um tanto duras se você resolver fazer justo a especialidade dela. Tô falando de mãe porque meu pai não sabe fazer um macarrão decente. Namorado (a)? Hummm. Se tem pouco tempo de namoro, não! Espere. Melhor dar mais tempo para a relação se fortalecer antes de colocá-lo (a) na condição de "cobaia". Se quiser fazer um jantar para ele - ou ela - antes disso, sugiro servir aquilo que você sabe fazer melhor. A imaginação é sua. 

* Adoro molhos. Mas detesto que a maioria pense que molho tem de ser carregado de pimenta. Não! Por favor, pense nas crianças. Quer dizer, pense em quem tem paladar de criança. Não é exatamente o meu caso (gosto de vinho, cerveja, fígado acebolado). Porém com pimenta eu sou fraca. Deve ser porque meus pais adoram uma pimenta. Minha mãe come malagueta como se fosse tomate! Daí, que ela deixava os molhos "quentes" e comentava: "tá fraquinho. Quase não sinto". E eu, pegando fogo, respondia: "eu sinto". Resultado: uso pouca pimenta. Se alguém quiser condimentar mais, aí vai ter de recorrer a molho tipo tabasco. O que, confesso, não tem muito em casa (assobiando).

*Se eu tivesse uma lista perene de ingredientes à mão, seria: sal - de preferência o marinho (como o que eu trouxe de Londres... ah, saudade) -, azeite espanhol, manjericão, orégano, alecrim, salsa, cebolinha, tomate, cebola, rúcula, alface, batata, pimentão, cenoura, ervilha, ovo, açúcar, pimenta do reino, queijo ralado, óleo de girassol, queijo, cogumelos, arroz, lentilha, atum em lata, molho de tomate e macarrão. Com isso na cozinha, posso ficar um ano, dois... Qual a sua a lista de ingredientes que deveriam estar sempre à mão?

* Se tem uma coisa que faz falta é um bom abridor de latas. Copo medidor é legal, mas não faz falta. Panela com teflon é legal, mas também não é essencial. Processador é dez, só que é outro item que você pode ficar sem e, ainda assim, sobreviver. Agora tente abrir uma lata de atum ou uma lata de creme de leite com uma faca...

* Ovo é um achado da natureza (se você gostar, claro). Mexido para o café da manhã, com gema mole para molhar o arroz, ou gema mais dura (pero no tanto) para comer no pão, com pouco tempo de fervura para você abrir a casquinha no alto e comer de colherinha... Ou batido 200 mil vezes para fazer o negócio render na frigideira... Com batatas finas, em rodelas (que viva España)... Mexido com cebola para colocar no macarrão tostado... Ops! Isso é receita boliviana. Quem vai entender?

* Falando em receita boliviana... todo mundo sabe fazer macarrão (ou seria melhor que todos soubessem), mas tem comida que só você sabe dentre seus amigos. Tudo bem, tudo bem. Outros podem saber fazer. Seria legal, no entanto, preparar algum prato de um jeito que seus amigos te apontem e digam para a turma inteira: "ovo frito tem de ser o do fulano". Claro, exagerei no exemplo (embora ovo frito também tenha seus estilos. O meu é com gema mole, sem quebrar aquele círculo amarelo cremoso e gostoso). É bacana ser expert num determinado preparo ou saber fazer um prato que poucos conhecem. Minha mãe certamente faz sopa de maní (amendoim) muito melhor do que eu. Mas nenhum dos meus amigos sabe fazer sopa de maní, que é um negócio delicioso (aprenda mais aqui, neste post que fiz 200 séculos atrás: "Minha primeira sopa de maní"). Eu também sei fazer salada de abacate (é quase como guacamole). Outros sabem também, visto que guacamole não é nenhum segredo de Fátima. Mas o costume de fazer essa salada está mais em mim do que nos meus amigos (na minha família, a gente come abacate com sal faz tempo. Na minha infância, lembro dos brasileiros estranharem esse costume latino. A preferência aqui sempre foi pelo açúcar). Então, explore a história da família e... pronto. Tenha um saber que é seu!

Livro que ganhei de aniversário. Vou me divertir muito com ele ;)