domingo, 22 de janeiro de 2012

Noite boa

Estou atrasada neste post. Mas tenho meus motivos. Queria falar do show que vi no Cine Joia do Marcelo Jeneci e da Tulipa Ruiz. Foi na noite de sexta para sábado. E só agora encontro condições de escrever. Não me interpretem mal. Tive muitas coisas pra fazer antes disso. E tem mais um detalhe importante. Já faz tempo que não adentro a noite. Minha vida, embora sempre tivesse um ou outro agito, estava sem avançar a madrugada. Daí porque no dia seguinte tive de recuperar energia.

Como já disse em alguns posts aqui, minha vida mudou radicalmente no fim de novembro. E eu me reconstruí. Não é fácil esse processo. Porém traz lá suas vantagens. Uma delas é te provocar a ir adiante e experimentar coisas novas ou retomar hábitos prazerosos do passado.

Encarar um show como o do Marcelo Jeneci e da Tulipa eu tinha deixado exatamente aí, no passado. Encarar a madrugada? Até novembro era uma possibilidade remota. Mas tudo mudou.
Fiquei sabendo do show pela própria Tulipa, via Facebook. Na hora avisei a Mariliz, uma amiga muito fã do Jeneci (ela me convidou para entrar num grupo no FB chamado Mulheres de Jeneci; eu entrei). Dessa conversa, nasceu o plano. Vamos?

Ora, vamos. E logo juntamos mais duas pessoas, o Marcelo e o Beto. E também a Andrea. E a Mari chamou  outras amigas. Pronto já havia um coletivo. Então, eu comprei meu ingresso e mais o do Marcelo e do Beto. Ficou por R$ 66. Como? Sim, R$ 66. Comprando no primeiro lote, pagava-se R$ 20, mais R$ 2 de taxa de conveniência. Para quem pagou uma pequena fortuna para ver o U2, isso era algo mais do que alvissareiro. Era algo para comemorar.

Jeneci empunhando um dos instrumentos que toca. Apenas um deles


Eu esperei por esse show contando os dias. Vi cenas da apresentação da dupla no Circo Voador. Deu mais vontade. Enfim, chegou a sexta. Caso tenha lido uns posts prévios, terá notado que venho correndo cedo. Mais explicitamente, às 5h45 da matina, quando o sol nem saiu, começa minha rotina. Não foi diferente naquela sexta. Depois dos meus seis quilômetros matutinos, pensei que deveria poupar minha energia para estar no Cine Joia no horário sinalizado pelo site: 22h.

Gosto de ser pontual ("Pontual", aliás, é uma música da Tulipa). Trabalhei como boa editora que sou e sai da redação correndo para casa. Não deu tempo de fazer nada, exceto deixar a mochila do laptop, pegar uma bolsinha pequena e jantar algo rapidamente. Peguei o metrô (eu sou uma adepta do transporte público, especialmente se vou a um lugar perto de uma estação; era o caso).

Desci na Liberdade. Que liberdade - perdão pelo chiste barato. Mas era isso mesmo. Fazia quanto tempo que eu não encarava a noite assim? Fui até o Cine Joia tipo 21h35. Surpresa. Havia uma fila. Surpresa. Não era para retirar ingresso. Era para entrar direto. Sorte que o Marcelo e o Beto chegaram na hora da minha vez.

O ponto negativo da noite é que demorou muito para o show começar. Beleza. Entendi lá dentro que a entrada era às 22h e que o show seria às 22h30. Ok, razoável esperar meia hora. Mas qual? O  início foi pra lá das 23h30. Meu corpinho teria pique? Depois dos meus seis quilômetros às 5h45 da matina, depois do fechamento do jornal? Depois do trânsito para voltar para casa e do jantar engolido às pressas, sem nem tempo de me jogar no sofá por ao menos dez minutos? Suspeitei desde o princípio (ah, Chapolim) que eu não ia aguentar a maratona. Só que eu estou neste mundo para me superar.

Momento azul do show do Marcelo Jeneci... (que definição mais estranha)


Eu conhecia pouco do Jeneci. Praticamente duas músicas. Eram as que eu lembrava e sabia a letra vagamente. As demais, talvez tivesse ouvido um pouco. Então, estava ali para ser apresentada de verdade ao som dele.

Adorei.

É um grande músico e tem uma bela entrega no palco. Multiinstrumentista. Cara, não é pouco. Melodias lindas. Letras? Não poderia falar muito. Teria de comprar o CD e acompanhar mais. Aliás, vou comprar o CD. Eu sou uma daquelas pessoas que busca CDs nas lojas. Tipo raro.

Interessante a devoção da plateia. Tive até a impressão de que tamanha paixão dos fãs do Marcelo Jeneci poderia ofuscar um pouco do brilho dos devotos da Tulipa. Notem que falo do público. Isso porque já dei pontos para uma banda ou para um cantor em função da reação da plateia. Uma legião de pessoas apaixonadas deveria dar, de imediato, um disco de ouro para o artista. Alguém pode falar que isso daria a cantores ruins, mas populares, o direito de se arvorar. Ora, que se arvorem. Conquistaram esse direito. De certa forma, aprendi isso com a Regina Casé, num TED feito em São Paulo (o primeiro evento independente feito no Brasil com a marca TED, Technology, Entertainment and Design).

Voltemos ao Jeneci. Eu brinquei com algumas pessoas antes do dia do show: minha amiga estava na turma dos que iriam ver o Marcelo Jeneci. Eu estava na turma que queria a Tulipa. Até aí, nada demais. Se os dois se entendem no palco, nós nos entendemos na plateia :) - como se isso fosse alguma espécie de competição... (tsc, tsc, Lena).

Então, veio o momento em que Jeneci chama Tulipa ao palco. Eu estava crente que a partir daí eles se apresentariam juntos, deixando o final para ela. Mas essa impressão logo se desfez. Como poderia? Eu sabia que na banda da Tulipa estariam o Gustavo (irmão) e o Chagas (pai), meu amigo desde os tempos da IstoÉ. Então, realmente não podia ser daquele jeito que pensei no início.

Os dois juntos, Marcelo e Tulipa, ficam lindos. Transmitem uma coisa boa. De camaradas, de amigos verdadeiros, de pensamento coletivo, de experiências compartilhadas, de vivência. Os dois juntos arrasaram. E eu fiquei com aquela felicidade de saber que o começo da carreira poderia não ter sido fácil, mas compensava. Estavam ali, embalados no carinho da plateia. Isso é sério.


Tulipa é chamada por Jeneci


Ao final, Jeneci saiu com aquele rosto de quem tinha feito um bom show. O público o amou. Deu pra sentir. Não sei como foram as demais apresentações dele. Mas ele me cativou.

Depois disso, tivemos de esperar uns 40 minutos pelo show da Tulipa. Naquela hora, minha bateria acendeu a luz vermelha. Estava cansada. Mas esperaria. Nem que fosse por três músicas. Ainda tinha o plano de correr no dia seguinte, das 7h às 8h. Meus amigos pareciam tão cansados quanto eu, ou até mais. E já era 01h da madrugada.

Sem mais delongas, vamos ao show da Tulipa. Ela abriu com "Efêmera", o que me espantou um pouco. Tive a sensação de que é sua música mais popular. Daí imaginei que tocaria mais do meio para o fim. Tudo bem. Foi ótimo também. Já começou quente. Meu amigo Marcelo decidiu que ficaria mais tempo. Estava gostando do show.

Sabe aquilo que disse sobre a devoção do público? Pois bem, a plateia da Tulipa estava ainda mais apaixonada. Eu adorei esse calor dos fãs, claro. Vinham aqueles gritos... "linda", "magia", "caralho" (ops). Estou reproduzindo o que lembro. Não vou conseguir reproduzir a ordem das músicas, mas como diz a Tulipa, a ordem das árvores não altera o passarinho.


A dona do palco

Eu conheço todas as músicas do álbum da Tulipa. Tenho as minhas preferidas, como todo mundo. Só que ver qualquer som já estaria bom demais. Preciso dizer que um bom show, na minha opinião, se faz com músicos de qualidade, som de qualidade (isso já derrubou as notas que dou... notas pessoais, quero dizer; só fiz uma vez para a grande imprensa), e com a entrega da banda ou do cantor.

Já vi os Arctic Monkeys num TIM Festival e teve gente que reclamou porque eles não interagiram com o público. Eu adorei aquele show. Os caras pegaram seus instrumentos e tocaram seu álbum de cabo a rabo, acrescentando músicas de outros artistas. Sim, não falaram "Olá, tudo beiim?! Obrrrigado". Mas isso pouco me importava. Eu queria som! E eles me deram isso. Tocaram quase sem parar, com intensidade no palco (verdade que mais entre eles). Já o Interpol no Planeta Terra 2011 me causou impressão de que eu estava numa região gélida, árida. Interagiram pouco também (algumas palavras aqui e ali). Porém não senti entusiasmo deles em tocar. Os anos de estrada devem ter cansado um pouco os caras. Ou eles são assim mesmo, frios.

Com a Tulipa é o oposto. Ela entra e é dona do palco. Interpreta mesmo sem usar a voz. Seus olhares, gestos, risos e sorrisos cativam o público. Tulipa fala com seus fãs. Ela os aproxima. Nunca tinha visto um show dela depois dos tempos do Pochete Set (esqueci como se escreve. Perdão).

Então, retomando o tema da devoção: não se trata apenas de o público gostar do som. As músicas estavam ótimas, os músicos idem. As cenas em palco também. A voz da cantora, fantástica (um gaiato gritou "me dá sua voz"). A qualidade do som, para  mim, que sou leiga, me pareceu ok. Os ingredientes estavam lá. Mas havia a paixão a acrescentar tons a mais. Os fãs estão cativos. Adoram a Tulipa. E ela faz por merecer essa devoção.

Dois momentos destacarei neste post. O que teve a volta de Jeneci, cantando uma composição da Tulipa. Ah, sim. Tem isso também. A Tulipa escreve. O Jeneci também. É uma bela safra de cantores. Posso falar safra? Não é "politicamente incorreto"? Se for, apelo. Safra remete a vinho. E eu adoro vinho.

Tulipa chamou Jeneci de volta

O outro momento foi quando Tulipa interpretou Caetano Veloso. Foi algo que teve um toque de experimentação (atenção, reforço: não sou crítica, nem de cinema, nem musical, nem literária). Não sei se já tinha feito isso antes. Ela fez um turbante com a toalha branca posta ali pela produção. Ampliou a música. Abaixou-se e ficou sentada no palco, atraindo os fãs que estavam no gargarejo. Foi uma sucessão de cliques. Eu nem tentei registrar o momento. Naquele momento era a voz. Era uma entrega.

Nessa parte, a música interpretada foi Pedrinho (é esse o título da canção? Fugiu da memória)

Fiquei mais do que as três canções. A música espantou o cansaço. Antes do show acabar, no entanto, decidi sair à francesa. Meus amigos já tinham se perdido - quer dizer, já tinham partido para suas casas. Naquele minuto eu estava só. Deixei o Cine Joia enquanto tocava mais uma das músicas favoritas. Na praça em frente, pedi um táxi. Como demorasse, conferi o relógio. Eram 3h. Mais duas horas e meia e eu completaria um turno de 24 horas sem dormir. Pensei que talvez tivesse comprometido o fitness do sábado. Sim, tinha valido a pena. Claro.

Eu estou vivendo uma nova fase. Enquanto o show rolava, vi casais se beijando, se amassando. Vi um cara gritando para a Tulipa "eu quero essa boca laranja". E vi o mesmo sujeito gritar quando o Marcelo Jeneci finalmente deixava o palco "eu sou mais bonito do que ele". Ri bastante. Mas ali na rua fiquei pensando. Estou só. Não que isso seja ruim. Nunca foi. Por muito tempo tive essa sensação e ela nunca foi triste. Verdade que enquanto estive no Cine Joia eu não estava só. Não. Éramos todos "amigos", compartilhando o mesmo prazer: ver um bom show e ficar feliz com a música. Mas a madrugada revela coisas que nem sempre percebemos durante o dia.

O show foi ótimo e eu não tinha ninguém para dividir essa impressão. A menos, claro que eu escrevesse e contasse um pouco do que foi a noite. Demorei. Espero, no entanto, que eu tenha passado a sensação do que foram as apresentações. Ah, sim, meu sábado teve de ser adaptado. Não corri, deixei de cumprir planos. O saldo final, porém, é o que conta. Fiquei bem.

Tulipa e o grande Chagas.

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