quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

São Paulo é a minha cidade. Tem vezes que é bela. Tem vezes que não

Gostaria de homenagear minha cidade. Minha porque nasci aqui. E minha porque eu a amo e porque a escolheria sobre todas as outras do mundo. Muitos paulistanos a detestam (queriam algo mais bonito, com mar e mais verde). Muita gente que aqui vive a odeia (reclamam de tudo, do trânsito às pessoas, do alto custo a uma suposta frieza). Discordo de um bocado de coisas. Mas isso não quer dizer que eu esteja certa. Sou aquela que, amando, talvez não enxergue certos defeitos.

Estação da Luz

Ainda assim, por amar esta cidade e por conhecê-la (sim, eu a conheço de verdade; não limito meu mundo aos bairros bacanas), vejo nela promessas. E vejo necessidades urgentes. E vejo carências específicas e vejo a ausência da reflexão sobre o cotidiano, sobre o futuro da metrópole. Existe o sonho de outros tantos brasileiros de morar neste pedaço do País porque é rico e desenvolvido. Preocupa-me, no entanto, que não se pense no lixo (o que fazer com os grandes volumes? E por que raios é tão difícil que as pessoas joguem papeis, sacos, latas, garrafas e bitucas nos lugares apropriados?), na água (na falta e no excesso, caso das enchentes), nos desprotegidos (a infância nas ruas e os viciados em crack, por exemplo). A gente quer o bonito, o legal. Não quer o roto, puído, sujo e maltratado. São Paulo não pode ter só um lado. Nunca terá. Parece-me que muita gente não entendeu isso.

Pinacoteca - As três meninas, de Lasar Segall

Incomoda-me quando ouço alguém falar que São Paulo é feia. Perdão. Isso não está certo. A Serra da Cantareira é feia? O Masp é feio? Mesmo a avenida Paulista, ela é feia? Ah, cartões postais, dirão. Sim, claro. Puxei por aquilo que a maioria pode conhecer - se bem que a Serra da Cantareira... Imagino que poucos tenham se aventurado a caminhar por ali, a vaguear por suas trilhas e estradas.

Dois arco-íris no céu da zona norte

Não vejo nada de feio no Parque da Luz, por exemplo. Vai ter gente que reclamará: tem prostitutas velhas e gordas, sondadas por homens acabados, esquálidos ou com barrigas protuberantes. Feio? Não é isso. É triste ver que essas mulheres têm de viver assim, paradas em um canto, em silêncio, esperando que alguém se interesse pelo programa que podem oferecer. Mas são seres humanos. Gostaria um dia de conversar com elas, saber de suas vidas, trazer algum conforto ou solução. Não consigo chamá-las de feias. Feia é nossa mania de cruzar os braços e justificar nossa falta de sensibilidade com os excluídos usando o argumento "que nada podemos fazer e que isso é responsabilidade do Estado". Mas eu acho que poderíamos fazer mais se fossemos mais solidários.

Vista do Parque da Luz, pelo canteiro das flores

Solidariedade, porém, é artigo de luxo, raro. E não está em falta somente em São Paulo. O Facebook vai me revelando que esse é um mal que se alastra sem se fixar em fronteiras, em nacionalidades. Só para dar um exemplo.

Boteco no Bom Retiro

Por que é tão complicado pensar no próximo em vez de pensar em si? Qual é a chave que a gente muda para  começar a praticar algo em benefício de pessoas anônimas, sem pensar que de alguma maneira seremos recompensados pelos nossos nobres gestos? O verdadeiro bem, acredito, é aquele que você pratica sem desejar receber uma paga por isso, seja a paga da consciência tranquila ou seja a paga de um lugar garantido no céu. Fazer o bem tem de ser livre de interesses pessoais.

Loja na José Paulino

Já estou misturando coisas. Mas São Paulo é uma mistura. Eu disse que, por vezes, é bela. Acho que a cidade é fascinante de noite, com suas luzes e gente. Seus restaurantes e ruas com o povo bebendo cerveja e rindo de uma história ou lamuriando o emprego - ou o relacionamento - mal resolvido, o chefe mala, uma derrota no futebol, um pé na bunda, o telefone que não toca ou a dificuldade de encontrar uma cara-metade.
São Paulo é música. E, desculpem os demais, nenhuma cidade brasileira tem tanta música transbordando como aqui. Um chato vai falar que em outros lugares a música pode estar de graça na praia ou no morro. Eu respondo: aqui também. É que os bacanas não querem saber dos nossos "morros". De volta ao Parque da Luz: frequentemente há duplas ou grupos de pessoas simples tocando seus violões para a plateia desconhecida. Eles também são desconhecidos. Mas estão lá, dedilhando suas canções, erguendo suas vozes  para encantar alguém. Quem sabe receber umas moedas, uma nota de R$ 2 ou R$ 5.

A cidade dos eventos: SP Fashion Week (a primeira vez da Laura)

Verdade verdadeira que temos muitos shows caríssimos. R$ 300 para ver uma banda internacional? Sim. É muito pesado, mas eu acabo pagando pela oportunidade de ver e ouvir meus ídolos de perto. Isso me torna integrante de uma elite. Considero os valores abusivos, de forma geral. Seria melhor para todos que fossem mais baixos. Além disso, detesto toda a canalha que surge em torno do evento. Dos cambistas aos flanelinhas que cobram R$ 50 para vigiar seu carro. Dos taxistas que tentam cobrar preços fechados nas alturas aos estacionamentos mal organizados. Esse é um lado nada bonito de São Paulo. Precisava mudar certamente.

Planeta Terra, na minha opinião, o melhor festival da cidade

Dizem que nós, paulistanos e quase-paulistanos, somos frios. Isso não é legal. Mas, de novo, acho que isso é uma tendência geral. Estamos fechando os olhos para a solidariedade e para a gentileza. Eu gosto de dizer "obrigada" a toda pessoa que me atende. Agradeço o garçom, a moça que foi buscar uma roupa para mim, o motorista do ônibus. Converso todo dia com o porteiro do prédio, que trato com deferência. "Bom dia, seu Francisco". Costumo pedir desculpas pelos esbarrões que dou. É comum que pessoas apressadas nem olhem para trás - e eu fico com meu pedido no ar.

Museu de Arte Sacra

Não sou diferente, nem melhor do que ninguém (certamente sou pior do que muita gente... ah, meus defeitos). Mas seria interessante se as pessoas se esforçassem para tornar esta cidade mais bonita, humana e acolhedora.

SP à noite... eu te sigo...

E isso vai começar quando deixarmos de nos isolarmos diante de questões sociais urgentes ou de acontecimentos que firam a cidadania. Os episódios da cracolândia e do Pinheirinho (fora da capital, mas serve de exemplo) mostram que estamos longe disso. Não devemos ficar insensíveis à brutalidade alheia. Quer dizer, eu vejo esses dois casos como brutais. Há meios de agir sem ferir o ser humano, oferecendo apoio em vez de balas de borracha. Planejando de fato, em vez de dar desculpas por "acidentes de percurso". Meu discurso tá meio humanista demais, talvez, mas é que realmente me preocupo com essa transformação das pessoas em seres que se atentam mais ao Facebook e às fofoquinhas ou programas idiotas da TV e que colecionam frases de efeito em vez de refletir mesmo a respeito do que é preciso fazer para esta sociedade melhorar. Não quero postar frases de efeito. Quero comentar conquistas. Fatos que aconteceram e que geraram algum bem. Ou, pelo contrário, que fizeram mal - e que, em razão disso, devem ser criticados.

Praça Júlio Prestes, ao lado da estação Tiradentes

São Paulo tem tudo isso. Mas ela pode ser menos reacionária, como apontou o Xico Sá em seu blog (que bom que ele escreveu sobre isso). Ela pode ser mais bela. Ela tem muito a evoluir como espaço urbano. Eu quero fazer parte disso de alguma maneira. Por isso, eu penso, analiso e procuro agir. Quero que São Paulo seja melhor a cada dia, ainda que isso seja difícil. Mas amor é alimento para enfrentar diversidades, não é?!

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