domingo, 1 de julho de 2012

Londres aos bocados

Toda hora tento lembrar a última vez que estive em Londres. Terá sido sete anos atrás? Confesso que não vem à memória e eu teria de apelar a anotações. Não estou com os meios apropriados para isso, porém. Longe de casa, longe do essencial. 

Ou não. O que é o essencial numa viagem? Ter a mente aberta, o espírito tranquilo, um bom par de calçados, o dinheiro adequado (o ideal são outros 500. Mesmo) e a disposição de um estudante. Porque não consigo imaginar viajar sem a vontade de aprender. Ok, por disposição de estudante alguém pode entender a capacidade de entornar garrafas de cerveja e partir pra festa (qualquer festa). Também pode ser. 

Esse “essencial” está comigo. Andar nunca foi um problema para mim. Mas, como comprei o travel card p/ usar no transporte público, nem estou camelando. Vou para um lugar e logo procuro a estação de metrô mais próxima para me deslocar para outra parte. Santo Oyster (o nome dessa coisa). Em outros tempos, eu caminharia um pedaço para fazer render meus bilhetes de metrô (nas outras vezes em Londres eu me esqueci de comprar o cartão adequado para a quantidade de dias que ficaria).

A mente aberta e o espírito tranquilo? Fácil. Nem preciso falar sobre isso – todo mundo embarca assim em viagem, não é?! Acho. Calçados, tô legal. Uso meus tênis e trouxe até um de corrida. Correr só fiz uma vez (no Hyde Park). Tenho vontade de fazer um belo running, mas depois teria de retornar toda suada ao local onde me encontro. E eu estou num albergue. Não dá para largar a mochila com todas suas coisas e sair para correr no parque. Não me sinto segura para tanto.

Trecho de um lugar no Hyde Park onde corri. Foto está no molo.me/lecastel
 
Disposição de estudante também pode incluir essa minha estadia num albergue. Eu poderia pagar um hotel baratinho com um quarto do tamanho de um ovo. Mas resolvi experimentar o hostel que fica na Kensal Green (Bakerloo line). Comparado ao albergue francês onde fiquei dois anos atrás, este necessita melhorar um bocado. Foi baratinho, porém. Pelo custo x benefício, tudo bem.

Tem gente que, a esta altura do campeonato, não iria encarar um hostel. E até descobri que tem albergue que não aceita gente com mais de 45 anos. Ora, ora. Que discriminação. Fico pensando a razão. Será que temem um mal súbito? Será que querem uma imagem de juventude associada ao lugar? Sei lá. Considero, no entanto, essa imposição uma tremenda bobagem. Bem, ainda estou dentro da faixa permitida.

Não é o caso do hostel onde me encontro - eles não têm essa discriminação de idade. Escolhi um quarto para seis mulheres (até ontem, eram cinco hospedadas; uma delas a espanhola Ana, que virou amiga). No hostel de Paris, tive de fazer uma maratona porque fiz reservas em dois quartos diferentes, para poder me abrigar durante a semana que fiquei. E carreguei uma mala pesada por todos os momentos (eu voltava da cobertura do festival internacional de criatividade, de Cannes). Foram momentos muito difíceis. Pobres dos meus músculos e tendões. Em 2009, eu tinha me hospedado em um albergue em El Calafate, na Patagônia argentina, mas fiquei no térreo, o que foi uma mão na roda.

No hostel londrino, peguei um quarto no segundo andar, e minha bolsa não é tão incômoda para carregar como era a mala da viagem para Paris. Lição aprendida. A parte ruim é que o chuveiro está no quarto. Detalhe: chuveiro, não banheiro. No albergue do Calafate, havia um banheiro no quarto. De verdade. No albergue de Paris, os chuveiros ficavam no banheiro comunal (por andar). Aqui, é um box com uma ducha em cada quarto. Resultado: sou obrigada a tomar banho no maior silêncio para não perturbar as outras pessoas. Albergue é um exercício de convivência.

Mas acho que vale a pena, se você tiver disposição para isso. Paguei menos de uma diária de hotel (numa região mais central) por todos os dias que reservei no albergue. Dá para gastar em outras coisas.

A vendedora "my love"

Gastar em outras coisas??? Por que, Deus, por que? Eu tinha ido à região do Olympic Park. Queria xeretar. Queria ver o centro aquático projetado pela Zaha Hadid. Mas fui na quinta-feira 28 e não abriram para o público – não tenho certeza se abririam hoje; o policial que consultei foi muito dúbio em relação a isso. 

Então, fui dar umas voltas pelo shopping center que construíram na entrada do parque olímpico. Shopping fino, cheio de marcas bacanas. Eu estava passando incólume por elas. Comprei sim algumas coisas na Uniqlo, mas eu já ia fazer isso de todo jeito (não foi na Oxford Street porque no dia não encontrei nada que me entusiasmasse). No Westfield Stratford City eu fugia das lojas porque do outro lado da estação havia um centro de compras que eu havia checado antes. Lá se vendiam coisas muito baratas. Camisetas a um pound, três, cinco... Tipo a Zé Paulino de Stratford mas num ambiente mais fechado. Tinha até umas lojas de 99p (99 pences). 

Daí que ter visto primeiro o centro comercial baratinho me vacinou contra os cartazes de “sale” que apareciam nas lojas do Westfield Stratford City. Passei na loja olímpica da John Lewis e estava até disposta a comprar um CD... Então, cruzei um quiosque de uma marca de cosmético. Uma russa me chamou. Pronto. Fui pega. Se alguém com sotaque te chamar, não atenda! É perigoso.

Pois a mulher foi muito convincente. Verdade que o produto é bom. Mas eu não ia comprar um creme de limpeza facial que faz um peeling suave. E nem um sal japonês para lavar minhas mãos e deixa-las lindas e macias como nunca antes na vida. Sério. Esse sal deve ter alguma química que atinge seu cérebro e te deixa mole para as tentações consumistas. E a russa:

- My love, olhe como estão suas mãos. Não estão macias? Suaves, sedosas? Imagine seu corpo inteiro assim, my love.

(Eu imaginei...)

E veio depois o tal do creme que levanta até seu astral. Falei que não queria, obrigada, você foi muito gentil. Mas a russa me agarrou pelo braço.

- Lena, my love, espere... porque gostei muito de você vou falar baixinho (e abaixou o tom de voz) para te oferecer algo especial. Você gostou desse produto que tem o sal japonês, não é? É meu presente. Reduzo o preço do creme e te dou o outro produto.

Acabei comprando. Estava saindo quando veio a outra vendedora. Fez uma demonstração de produtos no meu rosto. Ficou tão bom que, quando me vi no espelho, disse:

- Congratulations!

Realmente muito bom. Mas a máscara era caríssima. Tipo 300 pounds. E ela: “my love, te faço uma oferta especial”. Eu não posso, respondi. E a mulher foi baixando o preço. Baixando, baixando. Eu não preciso mesmo de um produto desses. Ou até preciso. Só que estava decidida. Não compraria mais nada do que tinha estabelecido antes da viagem. Essas vendedoras são ótimas. Tinha de escapar. Ela chegou a 69 pounds. “My love, não quero mais lucro. Só quero te ver feliz. E sua pele ficou outra. Tanto que você disse ‘congratulations’. Seu rosto se iluminou de alegria. Tenho certeza que seus filhos gostariam que você se desse esse presente. Você merece”. Sim, eu mereço, my love, mas não vou ceder. Fui embora. A tal química do sal japonês deveria ter se dissipado.

Westfield Stratford City, o centro de compras de luxo em frente ao parque olímpico. Fuja!

Não precisa pagar, mas...

Um amigo me pede dicas. Londres é tão grande e os desejos são tão diversos que fica difícil arranjar dicas que valham para todos. Eu acho que a gente deve programar quais museus visitar. Esses mais famosos são de graça (os privados não), com sugestão de donativos (6 a 7 pounds para o British Museum, por exemplo; 4 a 5 pounds para a National Gallery). Porque não dá para dar uma passadinha e falar que volta depois com mais calma. O “voltar depois” não existe. Ah, sim. Têm de checar quem dá mapa de graça (British, com sugestão de doação) e quem não dá (National Gallery cobra um pound).

British Museum: adoro ver as múmias.

Wi-fi de graça, que beleza

Lugar para comer, por enquanto não posso falar muito. Exceto que procurei várias vezes o Pret a Manger. Primeiro porque gosto do estilo. Tomei muitas sopas. Segundo porque tem wi-fi de graça, basta se cadastrar.

Falando nisso, wi-fi de graça é o que há. No Starbucks também tem (mas eu não usei lá). No John Lewis, idem. E em algumas estações de metrô. Na Westminster funciona. Só tem de fazer cadastro nos serviços das empresas que oferecem o wi-fi. Tenho utilizado na boa. A liberação do wi-fi no metrô é por conta da Virgin Media. Olha que bela maneira de uma marca aparecer...

Cobra-se pra rezar?

Por falar em Westminster, não sabia que se cobrava para entrar na abadia. Como assim? Uma amiga que mora aqui faz sete anos disse que sempre se cobrou. Respondi que não porque 18 anos atrás, quando morei em Londres, na Zona 4, por um singelo mês, não se pagava nada para entrar lá. Bom, de todo modo, eu não paguei. Não entrei. Quer apenas rezar? Vá à igreja de St. Margareth. Não se cobra para entrar.


Harry Potter? Tem de reservar

O que eu pagava? Pagava pelo tour no Warner Bros Studio que mostra o making of do Harry Potter. Fiquei triste de não conseguir “bookar”. Então, se você pretende visitar a capital inglesa e gosta da aventura criada pela J.K. Rowling, reserve seu bilhete. Custa algo como 28 ou 26 pounds. Agora esqueci, mas está no site. Falando nisso, se quiser fazer uma foto na plataforma 9 ¾ (que virou 9 ½ no Brasil), vá até King’s Cross Station e depois das plataformas 11 – 10 – 09 (acho que são três), você encontra uma loja de livros e, na sequência, o carrinho de malas enfiado na parede. Eu fingi que o Dobby tinha impedido minha passagem.

Não tive o making of do Harry Potter, mas fui até King´s Cross Station

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