quinta-feira, 19 de abril de 2012

O show da minha vida - Uma atualização necessária

Eis-me aqui, de novo sem saber como começar. "No capítulo anterior..." Bem, tem de ser algo por aí mesmo. No post anterior eu escrevi sobre os shows que marcaram minha vida. Escrevi? Na verdade, indiquei alguns, sendo o Radiohead em São Paulo o primeiro da lista. Já vi tanta coisa que não sei se daria conta de escrever um texto falando sobre todos eles.

Mas dizia também que estava para acontecer o show do Foo Fighters no Lollapalooza. E colocava no post minhas expectativas de uma bela apresentação. Elas se cumpriram.

Antes, devo explicar que há muito tempo espero por eles. Minha paixão pelo FF não existe desde sempre. Não. Na verdade, eu os conhecia, mas ainda não tinha desenvolvido uma ligação com eles. Sabia que tinha o baterista do Nirvana. Mas o Nirvana não aconteceu na minha vida como aconteceu na vida de tantos outros.

Na época do grunge eu tinha outras coisas me ocupando. Para ser mais precisa, eu era mãe. E naquele início dos anos 90 tudo aconteceu tão rápido comigo que, quando pisquei, tinha casado e tido meu filho, o Lucca (no mês e ano de morte do Kurt Cobain). Depois veio a Laura, em 1995, ano em que surge o Foo Fighters. Os dois filhotes têm apenas um ano e quatro meses de diferença. Naqueles dias, eu mal tinha tempo para ouvir sons novos. E, claro, passei a priorizar outro tipo de música. Por uns bons anos eram canções infantis ou canções de desenhos. Foi um período bom.

Foto oficial da banda (olha o Taylor, o baterista, como tá novinho)

Isso explica um pouco minha demora em aceitar o FF como banda. Reconhecia algumas músicas. Mas não estava com cabeça para isso. Isso só veio acontecer quando voltei a morar com meus pais, já separada. Os filhotes estavam maiores e começaram a ouvir comigo alguns dos sons que tinha. Voltei a redescobrir a música. Aos poucos, minha atenção foi se voltando a músicas que eu tinha deixado passar. Sonic Youth e Smashing Pumpkins, por exemplo, eu mal tinha noção do que eram. Estava andando atrás do prejuízo. Andando, não correndo. Porque outros sons surgiam também. Morrissey, que nunca abandonei, voltou a ser objeto de minhas compras. Descobria novidades que eram novidades até mesmo para meus amigos mais antenados. A Virgin Radio foi muito importante para isso.

Um dia, numa rede social, o Last.fm, num grupo de amigos, perguntam que bandas eu gostaria de ver. Foi apenas aí que materializei o desejo de ver o Foo Fighters. Eu já ouvia o som deles. Já curtia. Banda? Que banda eu queria? Citei na ocasião Travis e Stereophonics. "E, claro, Foo Fighters". Foi tão natural como se tivessem me perguntado se eu respiro.


In Your Honor
Comprei um CD que não parou de tocar. Eu cantava "In Your Honor" e dizia que aquilo era demais. Tem gente que acha excessivamente barulhento. E aquele grito?!, comentam meio assombradas por eu curtir. Mas eu me sentia bem cantando e gritando com o Dave Grohl. Passei a buscar mais sons. Estava conquistada.

Está criado o contexto. Foi por aí que se deu a minha espera. Foram muitos anos aguardando. Surgiram dois álbuns nesse período. Que comprei. A expectativa foi alimentada também pelo público. De repente, todos pareciam amar Dave Grohl. Que ele era amado antes, tudo bem. Mas veio uma onda grande de popularidade. Não sei por que. Acho que faltam alguns ídolos do rock que tenham esse jeito do Dave Grohl, que toma sua cerveja, que tira sarro e se diverte, e que deixa escancarado como a vida hoje nos deixa doidos, com vontade de dar um urro primal de vez em quando. Eu tenho essa vontade!

Lotação máxima no 1º dia do Lollapalooza. Na foto, TV on The Radio, que fez um show incrível

Muito bem. Assim que saíram ingressos do Lollapalooza, tratei de garantir os meus e o da Laura (ela também gosta muito do Foo Fighters). Uma das minhas irmãs (Tati) também comprou (outra fã). Minha outra irmã ficou na expectativa. E minha sobrinha mais velha, que tem a mesma idade da Laura, apelou ao pai, mas ele achou o ingresso muito caro. Então, ganhei dois ingressos para a cabana vip. Beleza. Dei o meu restante para minha outra irmã (Lu) e o da Laura foi para a sobrinha (Júlia), que exultou. E assim fomos, as quatro, mais uma grande pequena amiga (baixinha como eu), a Mari, que é uma das fã mais apaixonadas pela banda que conheço.

Júlia, Laura, Tati e Mari, minhas companheiras de Foo Fighters

Set list
Ora, como resumir? Foi épico. Eu tinha conferido o set list do Lollapalooza Chile e do show deles na Argentina. Tinha uma ideia do que viria pela frente. Mas, ao final, eles superaram minhas expectativas. Para dar ideia do meu estado, um pequeno rio de lágrimas desceu pelo meu rosto durante uma das músicas (e eu não sou de chorar em show). E outra vez chorei quando soaram os primeiros acordes de "Everlong", a canção que encerrou a tão aguardada apresentação deles.

Mas já estou falando do final?!

A lista das músicas que o FF tocou está aí

Vamos começar pela hora em que me ajeitei com minha pequena turma para vermos a banda em um ângulo bom. A tarefa seria difícil: 75 mil pessoas pra ver o Foo Fighters. Sentiu o tamanho da encrenca que tínhamos pela frente? Bem, encaramos a pista às 18h. Ou seja, ficamos dispostas a uma espera de duas horas e meia. Numa vez, num Tim Festival, fiquei tanto tempo de pé que pensei que jamais me recuperaria daquilo. E, naquela ocasião, tinha um telão que subia mensagens de algumas pessoas lá. Veio um texto assim: "não sinto mais minhas pernas". Bingo! Tradução perfeita do que é esperar muito tempo por um show. Em situações assim não há muito o que fazer.

Poderia ter ficado com os vips. No conforto. Mas não. Foo Fighters eu queria ver o mais perto possível. Fizemos o que deu. Esperamos pacientemente. Quando as luzes deram sinal de que, sim, eles estavam para entrar, veio a primeira onda de apertos e empurrões. Eu e a Tati fechamos com os braços um pequeno círculo para proteger as meninas. Eu me atrevi a fazer esse papel de segurança, mesmo sendo pequena porque, afinal, eu era a mais velha ali. E me sentia responsável pela Laura e pela Júlia.

Essa foto eu fiz. Fiquei bem feliz de ter capturado essa imagem, que está toda tremida, mas tudo bem

Então, começou. A primeira música foi "All My Life". Os gritos eram histéricos, os pulos, ensandecidos. Eu e a Tati fazíamos o cerco protetor, sendo sacudidas. A Laura estava com uma cara um pouco assustada. Mas logo nos acostumamos aos empurrões, que foram diminuindo. O público estava extasiado. O coro acompanhou Dave Grohl.

Fazia tempo que a banda brincava com a adoração brasileira. Mais de uma vez eles se referiram a isso. Ao fato de ter sempre um brasileiro se manifestando onde quer que fosse pedindo que eles se apresentassem aqui. Senti que, mesmo sabendo disso, o calor emanado do público os surpreendia. Dave, e seu eterno chiclete, transmite uma imagem de pura entrega. Ele sua a camisa para tocar e cantar. Não falo apenas pela camiseta molhada. É pela energia que a gente capta ao vê-lo correndo pelo palco.

Ao contrário dos demais grupos, o Foo Fighters tinha acesso pleno às laterais do palco. Então, Dave provocou ainda mais delírio quando correu para uma das laterais, exatamente o lugar onde a gente estava. Foi lindo. A gente viu o sorriso dele de perto, a cara de alegria. Como não se emocionar com tanto carinho retribuído, com tantas pessoas cantando a música em alto e bom som, acompanhando tudo com devoção?!

Só para mostrar o Dave Grohl perto de onde nós estávamos

Who are you?
Que momentos destacaria? "The Pretenders" foi energia pura. O público cantou tão bonito. Com força e com vontade. A multidão quase ficando rouca que nem o Dave Grohl (alguém pode reclamar que ele estava sem voz, mas todo mundo sabia). Quando chegou a parte que diz "What if I say I'm not like the others/ What if I say I'm not just another one of your plays/ You're the pretender/ What if I say that I'll never surrender", então, a pista se agitou, com os pulos e gritos. Eu, que estava na muvuca, acompanhei essa música a plenos pulmões. "So, who are you". Eu? Uma fã.

Outro ponto alto foi "Best of you". Foi planejado um flash mob para essa hora. Um monte de gente levantou papéis como se fossem cartazes estampando simplesmente "Oh", que era para ser entoado quando a música chegasse ao fim. A Mari contou tudo antes do show começar. Mesmo estando "preparada" para a surpresa programada para o Foo Fighters, eu me emocionei. Foi arrepiante. Foi uma declaração de amor. Ou para mim foi. Cantando o "Oh, oh, oh, oh", eu também dizia "adoro vocês, FF". E havia tantos papéis brancos se multiplicando por aquele espaço, replicando aquela sensação de pertencimento. Éramos todos iguais.


Oh, oh, oh, oh
Acredito que o Dave Grohl sentiu o impacto. Sério. Acredito. Os olhos dele estavam marejados. Isso se via pelo telão que passou para a gente, o público presente no Jockey. Na transmissão pela TV, percebi depois, essa cena não foi exibida. Todos eles curtiram muito. O som parou. O cântico se ampliou. Vieram as palmas. "Eu amo vocês", disse o Dave Grohl, colocando um "fucking" no meio da frase (como ele faz direto). O povo vibrou. E veio uma sucessão de "Foo Fighters" antes que "Best of You" voltasse a ser executada.
Emoção durante o flashmob: do público à banda


Essa música fechou a apresentação e deixava a boca com vontade de cantar mais. Deu sabor, deu calor. Era quase uma reticência no ar. A gente esperava pela volta. A gente sabia que eles voltariam. E a gente continuou cantando "Oh, oh, oh, oh".

Parte de "Walk", vídeo que fiz com as mãos trêmulas. O som distorcido é por causa da proximidade das caixas acústicas

Confesso que chorei muito com "Walk", mas mais por conta das particularidades da minha vida. Essa música me embalou em uma fase complicada, quando preciso mesmo reaprender a andar, falando de modo metafórico. Eu fiz o vídeo e logo vieram as lágrimas. É fantástico o poder que a música tem de evocar lembranças. As boas e as más. Não associo "Walk" com algo ruim. Não. Eu gosto dessa música. Ruim foi lembrar de alguns dias. Senti-me meio ridícula, mas o que eu podia fazer. Estava desnuda naquele instante. Alma despedida. Chorei, sim. Envergonhei-me. Enxuguei as lágrimas. Voltei a cantar com a banda e o público. Se as imagens estão tremidas no vídeo, perdão. Entendam, porém.

Dave Grohl fazendo piada no intervalo para o bis; ele dizia que não tinha mais voz para cantar

A emoção, a garganta apertando, os olhos marejando... tudo isso voltou a acontecer em "Everlong", a música da despedida, já no bis - que teve Joan Jett, inclusive cantando "I Love Rock'n'Roll". Eu nem sei bem por quê. Imaginei que "These Days" iria encerrar o show, mas nem foi tocada. "Everlong" começou, cantei... veio aquela coisa sem nome que faz o lábio tremer e as lágrimas encherem os cantos dos olhos. Sem nome que me ocorra agora, diga-se. Quando acabou tudo, de verdade, senti meu mundo diferente. Como acontece depois de grandes shows que se aprofundam na minha memória. Mas este deixou marcas fortes. Sim. Virou o show da minha vida.

Se esqueci de contar algo, mais uma vez perdão. No espaço de duas horas de uma experiência como essa acontecem tantas coisas. É um macrocosmo. Ainda tenho muito a explorar.

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