segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Mais de um mês depois...

Eis-me. Muitas coisas aconteceram nesse tempo. Coisas que mudaram minha vida. Não entrarei em detalhes. Mas postei ontem, também depois de um século, um texto novo no outro blog. Vai aqui a reprodução dele.

Eu gosto de futebol. Adoro. Então, falei sobre isso. Sobre o baile do Barcelona sobre o Santos na decisão do Mundial de Clubes 2011.


"O que o Barça me mostrou
Quem me conhece sabe que tenho o hábito de acordar cedo, qualquer dia que seja. Acordo antes da maioria das pessoas com as quais convivo. Neste domingo, acordei mais cedo do que deveria ser meu normal. Lá pelas 5h. Eu queria ver o jogo do Santos com o Barcelona. Teria de esperar, portanto, um tempão até lá. Mas valeu a pena.
Não pretendo falar mal do Santos. O jogo do Santos fala por si. Tive a sensação de que eles estavam ali para ser a equipe do treino do Barcelona. Foi mais ou menos por aí no primeiro tempo. Teve gente que sentiu pena. Eu não. A gente não pode ficar sentindo pena de um time que conquistou a Libertadores e chegou à decisão do Mundial.
Esclarecido esse ponto, vamos ao que interessa. Primeiro, adianto: na Espanha eu torço para o Barcelona. Desde sei lá quando. O que sei é que eu não seria torcedora do Real Madrid (tenho meus motivos). Qual o maior rival deles? O Barcelona. Foi desse modo (mais ou menos) que decidi torcer por eles. Depois teve o peso da camisa, que por anos e anos ficou sem patrocinador. Ora, isso quer dizer alguma coisa. Não sou contra patrocínios. Pelo contrário. Só que você tem respeito por alguém que peita e diz “vou me manter distante disso”. Ok, os tempos mudaram. Ainda assim, tenho respeito pelo clube. Estive lá, aliás. No estádio e no museu. Senti-me fascinada na ocasião. Barcelona é um lugar incrível e o time também.
Fui para esse jogo (como se eu tivesse ido ao Japão) com um espírito preparado para qualquer coisa. Sim, eu sei que o Santos de Neymar está abaixo tecnicamente do Barcelona. E até mesmo se você contar talento por talento… isso já daria a dimensão de quem o time brasileiro iria enfrentar. Mas o futebol é o imponderável. Neymar poderia dar uma arrancada brilhante. O Ganso poderia fazer um lançamento espetacular (mas quanto a ele já não tinha essa fé). 
Mas começou o jogo e eu me entusiasmei com o time azul e grená. Não dá para não sentir um embevecimento. Aquela bola girando nos pés, percorrendo o gramado sem medo, sem receio do recuo ou de ser tocada entre dois adversários. Havia uma segurança em campo que transpirava pela camisa.
Sério, eu nunca vi isso tão nitidamente. O Palmeiras de 1996 jogava muito bem. Por música. Só que essa serenidade em campo… não, eu não vi. Teve gente que disse que até falta um pouco de emoção com tamanha perfeição nos movimentos e passes. Eu não acho. Era como ver uma dança. A coreografia que arrebata. 
O Barça assumiu a bola logo de início em seu campo de defesa. Era bola p/ cá, bola pra lá, quase sem sair da sua parte do gramado. A torcida santista ensaiou uma vaia naquele momento. O time continuou imperturbável, sondando, adivinhando o humor do adversário. Jogava com respeito.
O Santos? Também jogou com respeito. Sabia que estava diante de deuses. Esse foi seu erro. Claro que eles queriam ganhar e sonharam vencer. Disso eu não tenho dúvida. Mas era como meninos enfrentando homens. E homens bons.
Em campo eu via a materialização de tantos desejos que já tive no futebol. Vivo dizendo em casa, nos pulos no sofá, “vai atrás”, e invariavelmente fico aborrecida quando vejo que um jogador não acredita que alcançará a bola ou nem esboça tentativa de alcançá-la. No Barcelona, todos vão atrás da bola.
Quando vejo um jogador recuar a bola p/ o goleiro, normalmente meu coração dispara porque temo o pior. Isso não acontece com eles. Eles tocam lá atrás mesmo, sem problemas. Ué, não faz parte do campo? Pra que ter medo. Ou mesmo não hesitam em tocar a pelota para um jogador que tem adversários por perto. Em geral, isso me causa agonia. “Ó o ladrão”, grito quando é o meu time no gramado. Já pulei tantas vezes de raiva. “Droga, eu sabia”, lamento vendo a jogada perdida e o adversário roubando a bola… Mas com o Barça isso não rolou.
Eles não têm centroavante. O meu time também (piada). Eles nem precisam. Todos atuam em conjunto. É um pensamento coletivo e inteligente. Fantástico: jogadores que usam o cérebro! Claro que isso é possível. E pacientes. Eles esperam. Fazem a danada correr de um lado a outro até que encontram o caminho adequado.
Outra coisa: eles têm regularidade. A equipe está junta tem tempo. Eles se conhecem. Não tem essa de acabar o campeonato e renovar um terço do time. E tem base. Eles investem na formação de atletas. Tudo isso você consegue perceber em campo - para quem tem olhos para enxergar isso, óbvio.
E outra coisa que eles têm: Messi! Puxa, nessa partida eu admirei vários jogadores. Iniesta, Xavi, Puyol. E nem falo de Fábregas, Pique, Pedro. Os olhos crescem vendo a habilidade desses caras. Mas é a genialidade de Messi que me desconcerta, que me faz pular de novo (pular pode ser bom ou ser ruim; nesse caso, muito bom). Hoje é o melhor do mundo. Não há a menor dúvida. 
Como ele consegue sair carregando a bola assim, avançando mesmo apertado pelos adversários? Como acerta o passe debaixo da pressão alheia? Como percebe que é momento de dar o toquinho e não de dar o chute naquele espaço de tempo pouco maior do que uma piscada? 
Messi mexeu com minha adrenalina. De verdade. Eu queria que ele fosse sempre assim. Na seleção argentina, não tem essa regularidade que tem no Barcelona. Mas eu não preciso que ele seja gênio na seleção argentina (ainda torço para o Brasil). Preciso que ele seja esse jogador fantástico no Barça mesmo. Quero que brilhe por todo o tempo que puder. É muito bom poder ficar encantada.
E, por falar nisso, há outro ponto que quero destacar e que me encantou. Vi o Puyol estender a mão para cumprimentar um jogador do Santos que entrou mais para o final do segundo tempo. O cara estava lá, correndo para se posicionar. E o capitão do Barça esticou-se para cumprimentá-lo, como quem deseja um bom jogo. Podem até falar que eu me satisfaço com alguém que deveria ser corriqueiro. Deveria, mas não é. Daí porque eu fico feliz quando vejo um atleta dando exemplo, sendo cordato, bacana, honesto. Eu via isso no Alex, ex-Palmeiras.
Acho que o Barcelona deu, de fato, uma lição. Não apenas de futebol, como bem disse o Neymar. Deu uma lição de que é preciso investir no que é sério. Chega de bobagens. Vamos fazer o certo. Praticar o bom futebol. Treinar. Ser responsável. Respeitar o adversário. Encontrar o seu estilo e acreditar nele. E jogar bonito. "

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