quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

São Silvestre, minha meta do ano

Um ano atrás eu estabeleci minha principal meta de 2012: correr a São Silvestre. Talvez não seja exatamente a principal (tive outras), mas vamos encará-la assim. Até porque foi nela que pensei o ano inteiro. E meu desejo de cumpri-la é forte, tanto quanto minha persistência na trilha que criei para atingir esse objetivo.


Em dezembro de 2011 nasceu o desejo de correr. Mas correr com um propósito mais específico: a São Silvestre de 2012 (foto tirada no Hyde Park, em Londres, num treino que fiz lá no final de junho/2012)

Ah, não foi fácil. Tive percalços – coloquei neste espaço uma pequena parte deles. Mas nunca desisti de minha meta. Por mais que tenha me atrapalhado, por mais que tenha sido derrotada por um ou outro problema. Eu mantive minha mente concentrada na São Silvestre.


No frio ou no calor, não deixei de correr. Em casa ou fora, não parei. Mas não posso dizer que foi fácil.


Já são nove provas disputadas. A primeira delas eu descrevi aqui: foram os 5 km do Circuito Vênus, no Jockey Club. Foi uma sensação muito diferente ter cumprido aquele trajeto. Fiz até que um bom tempo, creio (29min53). Mas também não faz diferença agora. Naquele dia eu era ignorante de tudo. Vinha lendo bastante a respeito de corrida já. Nada me prepararia, no entanto, para a experiência de correr. Vale ressaltar para quem não sabe o que é disputar uma prova: não é fácil para quem está iniciando a atividade ter de cumprir uma determinada distância. Parece uma eternidade ver que falta metade do trajeto ou mesmo 800 metros, caso você não tenha treinado bastante ou de modo adequado. No treino, mesmo que você estabeleça uma distância, dá para interromper sem tanto drama (a questão é com você). Numa prova, há realmente um desafio. Você não quer desistir: quer terminar. Mesmo que veja um monte de gente te ultrapassando. Até aquelas senhorinhas japonesas que eu não sei de onde tiram tanta energia.

A primeira medalha veio no Circuito Vênus, em torno do Jockey: 5 km

Agora tenho nove medalhas. Vou em busca da décima no ano


 
Não tenho um orientador especialista. Tenho orientações de quem corre há mais tempo. Tenho esses textos que vejo nos sites que falam de corrida. Tenho os depoimentos de blogs. Desse modo fui montando meu conhecimento. E, claro, com muita corrida por aí.


Corri em alguns lugares diferentes. Em Monteiro Lobato, peguei uma estrada com subida forte e eu lembro de quase ter “morrido” no alto. Tive de parar, sem fôlego, enquanto via um homem subindo no lombo de um cavalo o trecho que me aniquilava. E pensar que parei numa loja de ração animal para pedir um copo de água assim que cheguei ao alto dessa subida. E pensar que eu tinha enfrentado um pouco de chuva antes. Tudo naquela estrada sinuosa e marcada por fazendas e gados, mais um riozinho que circundava o espaço. 
 
Em Monteiro Lobato, numa estradinha bem bacana fiz uma corrida que teve até chuva.


Em Cannes eu também corri. Um dia só, mas foi legal percorrer o caminho à beira-mar. Foi engraçado ter parado num quiosque, quando voltava para o hotel (numa pausa da corrida que fiz porque estava com muita sede), e pedido um Gatorade. Ora, não se vendia Gatorade lá. Optei por um Powerade – meu pedido surpreendeu um outro cliente no quiosque; ele me perguntou por que eu preferia Gatorade em vez de comprar qualquer bebida, como água, chá ou um energético (minha resposta foi: conheço o produto e sei qual sabor me agradaria mais). Eu não tinha a real percepção da disputa das marcas do segmento na Europa. Achava que Gatorade deveria ter em todo lugar do mundo, que nem Coca-Cola, com a devida licença de citar o grupo concorrente.
 
Cannes: uma foto no meio da corrida à beira-mar, na Croisette. Dia lindo.


Londres também me rendeu uma boa experiência. Corri no Hyde Park uns seis quilômetros ou algo equivalente. Nem senti muito a corrida. O que mais me pegou foi o medo de me perder. Que parque grande! Não dei mais do que uma volta no trecho que defini. Mas tive a sensação de me perder algumas vezes (de fato, errei a saída que pretendia). E na Cidade do México eu quase desisti. Peguei uma subida monstruosa no Castelo de Chapultepec e sofri com a falta de ar. Não posso esquecer que estava correndo na altitude. Aquilo foi complicado. Depois, me "habituei". O que estranhei foi notar os olhares sobre minha figura (as mulheres não se exercitam com short de corrida como o que eu usava. Um homem veio falar das minhas panturilhas e perguntar se eu sambava para deixá-las bem torneadas. Respondi que eu não sambo e fui embora). Em Buenos Aires corri pouquinho - inventei de tentar dar minhas passadas no sol da tarde depois de ter almoçado carnes. Foi uma loucura.
 
No Hyde Park, uma corrida de uns 6 km, calculo agora.
 
 
Palermo, em Buenos Aires. Acho que não corri 4 km, tão mal me senti.


Eu estava bem magra nesse período, o do primeiro semestre. Até demais. Depois, recuperei peso – porque voltei a me alimentar decentemente e porque diminuí o ritmo de treinos já que estava encarando seriamente o futebol de terça à noite (que se tornaria futebol de sábado de manhã). Futebol era ótimo, mas eu precisava descansar no dia seguinte porque disparar atrás da bola é muita explosão de energia.
 
Encarei uma prova de 10 km com uma gripe muito forte. Não pensei em desistir. Mas a gripe me cobrou o esforço durante a corrida no Jockey


Quando vi, deixei de correr diariamente (na minha rotina do primeiro semestre, eu tinha a segunda-feira de folga, dia em que fecha o parque da Luz, meu local de treinos; nos demais, eu corria) e me vi dedicada aos treinamentos unicamente nos finais de semana. Mas falhei tantas vezes no meu propósito que houve semana que passei em brancas nuvens. Não saberia contabilizar quantas foram. 
 
Em certos momentos nem parece que vai dar para terminar a prova. Mas, quando você percebe, acabou.
 
Fiz duas provas de 8 km. Nesta, a W Run, fui vencida pela ponte estaiada. No finzinho, andei. Mas terminar a prova dá a contrabalançada. Você fica feliz ao cruzar a chegada, mesmo suando em bicas
 


Tanto que, em uma prova ou outra, senti meu rendimento bem abaixo do que eu teria se mantivesse o pique do primeiro semestre. Tudo bem. Resolvi fazer o possível. Tinha muito trabalho e a prioridade era outra. No entanto, jamais abandonei a corrida.


Tive outros problemas. Assuntos pessoais. Fui seguindo. Minha meta estava estabelecida havia tempos e não seria um ou outro obstáculo que me tiraria do objetivo. Para isso, só uma perna quebrada ou algo do gênero.

[Observação importante: quando digo que não foi fácil, levo em consideração que estava enfrentando um problema complexo, de longo tratamento. Esse quadro dificultava minha caminhada. Dificultava meu dia a dia, na verdade. Mas correr fez parte da terapia - dois dos especialistas que me tratavam recomendaram uma atividade diferente de tudo que fazia. Se eu estivesse com saúde 100%, certamente essa vida na estrada, na trilha, nas pistas, nas ruas teria sido facilitada. Quero dizer com tudo isso que, se eu consegui, outras pessoas também conseguem. Não quero desanimar ninguém. Pelo contrário. Quero dizer que é possível, sim, uma pessoa comum (até fora do peso) correr 5 km ou 10 km ou mais, se você persistir. Eu estava doente, com depressão, porém, aos poucos, com paciência e perseverança, fui atingindo os graus necessários nessa trajetória. Outro detalhe importante é que, porque eu estava em tratamento, passei por outros médicos. Um cardiologista, por exemplo. Para entrar em qualquer atividade física é preciso fazer uma avaliação. O cardiologia que me examinou fez até um comentário que me fez rir. Depois de olhar mais um dos exames que pedira, disse assim "mas que coração bonito". Estava liberada para a corrida. Então, é isso: fazer uma avaliação médica é o primeiro passo. O segundo pode ser consultar um profissional da área. Uma avaliação esportiva dirá o quanto você pode mergulhar de cara na corrida. Eu não fiz isso, admito. Mas estudei tanto por minha conta que não creio ter feito nada arriscado. Fui aos poucos. Primeiro com caminhadas. Depois, corridas leves. Fazendo alongamento, usando calçado adequado, respeitando limites e condições do tempo. E assim fui subindo a barra dos desafios. Acho legal ter o apoio de uma consultoria esportiva ou um orientador expert no assunto, caso se tenha dinheiro e se pretenda disputar provas. Vale também entrar em grupos de corridas, trocar experiências. Ou seja, eu tive de me esforçar bastante porque enfrentava um problema particular. E se eu consegui chegar onde cheguei (que não é grande coisa, mas é algo), outros também podem.] 

A genética andina me configurou pernas para grandes deslocamentos e subidas. Correr não estava no código. Correr está no DNA de quenianos, por exemplo. Não de quem tem família do altiplano. Assim, parece que tenho de dar mais passadas do que os outros para percorrer a mesma distância


Em setembro, corri 16 km, uma distância pouco maior do que a da São Silvestre. Entretanto, foi muito difícil. Isso me mostrou que eu poderia sobreviver a um percurso mais longo e sob sol e variação de temperatura (que, no caso, foi extrema, saindo de 18 graus no início para 28 graus no fim da prova). Já não tenho esperanças de fazer bonito na prova da virada do ano. Não me preparei o suficiente para isso. Mas tenho condições de terminar sem sofrer muito.


Ponte Terceira, na prova de Dez Milhas da Garoto (ou 16 km), entre Vitória e Vila Velha. Esse sol nos mais de 3 km da ponte impôs um enorme sacrifício


Fiz nove provas e delas cinco foram de 10 km. Meu melhor tempo nessa distância foi no Jockey, numa prova que teria feito abaixo de uma hora se não estivesse muito gripada, a Meia de Sampa. O detalhe importante é que o percurso quase não tinha subida. Meio “fácil”. Meu segundo melhor tempo foi na 1ª Corrida de Natal de São Paulo, no centro de São Paulo. Ops, talvez seja o terceiro melhor tempo (comparo com a última prova de 10 km que fiz – Circuito das Estações Adidas/ Verão. A velocidade média das duas foi a mesma. Na Corrida de Natal fui um segundo mais veloz, mas a distância dessa prova foi 100 metros menor na contagem do Nike Running. Ou seja, corri 100 metros a mais no Circuito). O fato, porém, é que fiz a prova com boas condições e até corri bem. Também tive um momento de passar mal, na subida para a Sé. Ânsia de vômito que me obrigou a parar. Isso chama atenção para o cuidado com alimentação na véspera. Alimentação e “bebeção”. Eu tinha tomado um copo de cerveja mais densa e de teor alcóolico um pouco mais alto. Nada demais. Realmente um copo. Creio, entretanto, que esse pouco bastou para tirar meu bom equilíbrio.

A Corrida de Natal foi no centro de São Paulo. Sentia-me bem na largada. No final, passei um pouco mal. Mas na avaliação geral foi legal - minha maior velocidade em provas de 10 km alcancei lá


Ok. Foi uma boa prova. Depois fiz outro percurso de dez quilômetros (a última prova que disputei antes da São Silvestre, que aconteceu na região do Pacaembu), com um tempo de conclusão ligeiramente superior, conforme contei acima. No entanto, fiquei bem feliz porque não parei de correr e porque venci o Minhocão. É um elevado que exige bastante do organismo.

Fiz duas provas do Circuito das Estações: Primavera e Verão. Na primeira, não fui bem. Na segunda, eu me senti satisfeita. Venci o elevado (não andei nenhuma vez)
 
Aqui a largada dos 5 km do Circuito das Estações Adidas/ Verão, no Pacaembu. Nessa prova, uma de minhas irmãs correu. Eu fiz a de 10 km


Ainda tenho alguns treinos pela frente antes de encarar os 15 km da São Silvestre. Já disse: não me julgo suficientemente preparada. Poderia estar melhor se tivesse procurado uma assessoria esportiva ou um personal trainer. Só que eu não tinha tempo para isso. Nem tempo, nem pique. Tampouco cabeça. Sobre meu ânimo, estou bem melhor. Meu quadro de depressão está bem estabilizado – graças a todos meus esforços para combater esse mal. Lembro do meu médico que brincou comigo tempos atrás que, quando eu dissesse que estava ótima, ele me daria mais seis meses de tratamento. Meu médico foi muito bom e eu o recomendaria sem pestanejar. Não tenho certeza se em algum momento do segundo semestre eu poderia dizer: “estou ótima”. Não tenho certeza porque jamais me fiz a pergunta. Eu apenas entrei de cabeça nas 200 mil atribuições que tive pela frente. E encarei tudo com o melhor dos espíritos.


Voltando de um treino no Parque da Luz. Carrego comigo som, celular e uma toalha (não aguento ficar suando muito no rosto). De vez em quando um boné, quando ameaça chuva. Não tem como correr sem óculos. Ou isso ou tropeçar e cair
 
Correndo fiz "amigos" anônimos: as pessoas que treinam no mesmo lugar que eu e que costumo encontrar nas "madrugadas" e manhãs no parque da Luz

Correndo pude conhecer outras pessoas que já têm a prática em suas vidas, mesmo quando a prática era em terras estrangeiras, caso do argentino aí, Sebas, que posa comigo no Pacaembu

A corrida é muitas vezes uma experiência solitária para mim, mesmo estando entre os "amigos" anônimos do parque. Sou eu falando comigo - ou com o meu som. De vez em quando, uma novidade surge, como esse cão numa estrada de São Francisco Xavier, que me encontrou correndo numa subida no meio do mato, voltando de uma cachoeira. Ele veio se engraçar comigo e eu o apelidei de Timão (me lembrou o Timão de "O Rei Leão"). Ele me acompanhou até chegar perto do centro
 

Mas nessa minha trajetória também tive boas companhias junto comigo na largada. Como nesse caso do Palmeiras Run, que reuniu três palmeirenses da família (elas correndo 4 km e eu, 8 km)


Correr faz parte da terapia. Correr tem horas que dá preguiça (porque tenho de levantar cedo, mesmo cansada, e o que mais fiz neste semestre que acaba foi trabalhar intensamente). Mas correr dá uma sensação imensa de satisfação quando você cumpre a meta do dia, do mês, do ano.


A São Silvestre ainda está para acontecer. Depois voltarei para contar como foi. No entanto, ela já me dá esperanças para pensar no próximo desafio. Quem sabe uma meia maratona em 2013. Pode ser. Por isso, por me permitir sonhar assim, tenho de agradecer a muita gente, que me apoiou. E tenho um agradecimento especial também. Obrigada, minhas pernas e meus músculos, minha cabeça e meu espírito por me levarem adiante na trilha. Toda trilha, nesse sentido, é boa. Muito boa.
 
 

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